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18º
Tema PRESENÇA PARAIBANA NA CONQUISTA DO
RIO GRANDE Conferencista: Olavo de Medeiros Filho A fala do presidente Luiz Hugo Guimarães: A Diretoria do Instituto Histórico
e Geográfico Paraibano está encerrando hoje, dia 12 de novembro, este
significativo Ciclo de Debates, marcando mais um acontecimento no calendário
das nossas atividades do ano de 1999, dentro das celebrações do V Centenário da
Descoberta do Brasil programadas pelo Governo do Estado da Paraíba. Agradecemos o entusiástico aplauso
dos consócios e participantes desta jornada,
que torceram pelo êxito deste empreendimento. Hoje é o coroamento do
conclave. Estamos encerrando com chave de ouro as movimentadas sessões, dezoito
com esta, onde a historiografia paraibana foi esmiuçada com a exploração dos
principais episódios históricos que envolveram a Paraíba nesses 500 anos de
Brasil. Textos antigos e novos da nossa historiografia foram reexaminados,
reinterpretados, contestados até, levantando desafios aos estudiosos e
participantes para um exame mais aprofundado das fontes da nossa história. Várias razões nos felicitam por
esta concorrida solenidade demonstrativa da pujança da nossa quase centenária
instituição – a Casa da Memória
Paraibana. Primeiro, porque fizemos coincidir esta solenidade com o lançamento
da plaqueta n.º 8, da Coleção de Historiadores Paraibanos, que o Instituto
tomou a iniciativa de publicar desde o começo do ano. Estamos resgatando a
memória, de forma sucinta, dos nossos primeiros historiadores. Já lançamos a
público trabalhos sobre Maximiano Lopes Machado, Coriolano de Medeiros, José
Américo de Almeida, Horácio de Almeida, Elpídio Josué de Almeida, Ademar Vidal,
José Leal, e hoje estamos lançando o excelente trabalho de Marcus Odilon
Ribeiro Coutinho sobre Manuel Tavares Cavalcanti, sócio fundador deste
Instituto Histórico. Estão em pauta ainda, para lançamento até o final do ano,
os historiadores: Irineu Joffily, por Diana Soares de Galliza; Celso Mariz, por
Dorgival Terceiro Neto; e Padre Francisco Lima, por Waldice Mendonça Porto. Estamos, portanto, oficializando o
lançamento da plaqueta n.º 8, sobre Manuel Tavares Cavalcanti, de autoria do
historiador e escritor Marcus Odilon Ribeiro Coutinho. A
segunda razão que nos felicita, é por termos tido a aquiescência do
historiador, escritor, sociólogo, pesquisador inveterado, Dr. Olavo de Medeiros
Filho para encerrar o Ciclo de Debates com uma palestra de alto nível,
apreciando o tema PRESENÇA DA PARAÍBA
NA CONQUISTA DO RIO GRANDE. Olavo de Medeiros Filho é sócio
efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e nosso
sócio correspondente, pertencendo também a várias instituições culturais do
país e do estrangeiro. Ele traz
consigo uma bagagem de publicações festejadas nos círculos intelectuais do
país. É autor de VELHAS FAMÍLIAS DO SERIDÓ (e aí eu e o acadêmico e historiador
Joacil de Britto Pereira estamos incluídos), VELHOS INVENTÁRIOS DO SERIDÓ,
ÍNDIOS DO AÇU E DO SERIDÓ, CAICÓ, CEM ANOS ATRÁS, NAUFRÁGIOS NO LITORAL
POTIGUAR, TERRA NATALENSE, NO RASTRO DOS FLAMENGOS, O ENGENHO CUNHAÚ À LUZ DE
UM INVENTÁRIO e ACONTECEU NA CAPITANIA DO RIO GRANDE. Neste
último livro, Olavo aborda alguns episódios ocorridos na nossa Capitania. A seriedade de suas pesquisas lhe
tem permitido analisar episódios de tal forma a promover uma verdadeira revisão
de ocorrências mal interpretadas, chegando a conclusões divergentes das
estabelecidas pelos seus antecessores. É um
grande historiador, a quem passo a
palavra para sua palestra sobre a PRESENÇA PARAIBANA NA CONQUISTA DO RIO
GRANDE. Olavo de Medeiros Filho: (Historiador
norte-rio-grandense) Muito me
honra o convite formulado pelo presidente deste Instituto, Luiz Hugo Guimarães,
para proferir esta palestra a respeito da PRESENÇA PARAIBANA NA CONQUISTA DO
RIO GRANDE. Desde o
ano de 1535, quando foi doada a João de Barros e a Aires da Cunha a chamada
CAPITANIA DA COSTA DOS POTIGUARES, os laços históricos e geográficos entre o
Rio Grande do Norte e a Paraíba têm sido uma constante. A
expulsão dos franceses do Rio Grande, a edificação da Fortaleza dos Santos
Reis, o combate aos indígenas potiguares e a sua posterior pacificação, a
fundação da futura cidade do Natal, tudo isso só foi possível, graças à ajuda
prestada pelo capitão-mor da Paraíba, Feliciano Coelho de Carvalho. No ano
em que Natal comemora o seu quadringentésimo aniversário de fundação (23 de
dezembro), esta palestra representa, inclusive, o reconhecimento prestado pela
terra potiguar à vizinha Paraíba, pela ajuda recebida naqueles tormentosos
primórdios de sua história. 1. A CAPITANIA DE JOÃO DE BARROS DA COSTA DOS POTIGUARES Com a introdução
do regime das Capitanias Hereditárias no Brasil, foram concedidas em 8 de março
de 1535, cem léguas de terra ao longo do mar, a João de Barros e Aires da
Cunha. O primeiro, fidalgo da Casa Real, Feitor da Casa da Índia e Mina,
historiador, autor das DÉCADAS DA ÍNDIA; Aires da Cunha, também fidalgo, havia
prestado serviços no mar de Malaca e nas águas açorianas. A
Capitania concedida a João de Barros e Aires da Cunha, de interesse para a
história norte-rio-grandense e paraibana, foi aquela que tinha o seu início
meridional na Baía da Traição (Paraíba), estendendo-se até a Angra dos Negros
(Enseada de Mucuripe, no Ceará). Em novembro de 1535 partiu de Lisboa uma
armada, com destino àquela capitania nordestina. Financiaram a referida armada
João de Barros, Aires da Cunha e Fernando Álvares de Andrade; este último,
donatário de uma capitania de 65 léguas, que se estendia do Rio da Cruz (no
Camucim, no Ceará), até o Cabo de Todos os Santos (Ponta dos Mangues Verdes, no
Maranhão). Apenas o sócio Aires da Cunha viajou ao Brasil, vindo na qualidade
de Capitão-mor da referida esquadra, que em 10 navios conduzia 900 soldados,
inclusive 113 cavalarianos. O
objetivo da jornada seria o de dar-se início ao povoamento das duas capitanias.
Chegada a armada a Pernambuco, Duarte Coelho colocou à disposição de Aires da
Cunha, mapas, línguas (intérpretes) e uma fusta a remo, apropriada para
sondagens da costa. Partiram de Pernambuco, rumo ao Norte, em janeiro ou
fevereiro de 1536. De passagem pelo Rio Grande (Potengi), tentaram fundar uma
colônia na foz do dito rio, o que não lhes foi possível ante a reação
apresentada pelos indígenas potiguares, já então aliados dos franceses. Dali os
navios rumaram para o Maranhão, onde ocorreu a morte do donatário Aires da
Cunha, vitimado por um naufrágio. Com o
falecimento de Aires da Cunha, houve a divisão da Capitania da Costa dos
Potiguares, cabendo ao donatário João de Barros a porção meridional da
donataria, cinqüenta léguas contadas a partir da Baía da Traição, até o Rio
Açu, no Rio Grande do Norte. As
elevadíssimas despesas efetuadas por João de Barros, no intuito de “apressar o
povoamento das novas terras”, lhe custaram “muita substância de fazenda, por
razão duma armada, que em parçaria d’Aires da Cunha e Fernand’ Álvares d’Andrade,
tesoureiro-mor deste reino, todos fizemos para aquelas partes o ano de 1535
(...) por quão morto me deixou o grande custo desta armada sem fruto algum”
(Décadas, I, livr. VI, cap. 1). Ante o
fracasso daquela primeira expedição, seguiu-lhe uma outra, em 1556, na qual
vieram dois filhos de João de Barros: Jerônimo (nasc. 1521, falec. 1586) e João
(falec. 1578). O resultado da segunda expedição foi um novo fracasso. No rio
Baquipé, ou Pequeno, o atual Ceará-mirim, os potiguares induzidos pelos franceses
mataram muitos portugueses, membros da expedição. Provavelmente
em 1582, a antiga capitania de João de Barros reverteu ao domínio real,
tornando-se então uma CAPITANIA DA COROA, sob a denominação de CAPITANIA DO RIO
GRANDE. 2. A COSTA DOS POTIGUARES E A PRESENÇA FRANCESA Desde o ano de 1503, já ocorria a
presença de navios franceses no litoral brasileiro. Em 1516, traficantes e
corsários vindos da França agiam na Costa dos Potiguares, como era então
conhecido o território habitado por aqueles silvícolas, dele fazendo parte o
atual Rio Grande do Norte. O escambo praticado entre franceses e indígenas
abrangia diversos produtos nativos, como: algodão, fios e redes do mesmo
material; cereais, tabaco, pimenta, gengibre, plantas medicinais, óleos
balsâmicos; pau-brasil e outras madeiras nobres; peles de onças e de outros
animais; papagaios e aves exóticas; macacos e sagüis; minério de ouro,
crisólitos; âmbar, dos tipos cinza, negro e branco. Em 1518
começaram as atividades do armador francês Jean Ango (Angô), que financiava
navios destinados às atividades de corso e tráfico de mercadorias. Foi a época
em que se destacaram os aventureiros Guilherme de Testu, Barre e Jacques Sore,
cujos navios viajavam ao Brasil. Os navegantes, em sua maioria naturais da
Bretanha e da Normandia, agiam sob a proteção do rei Francisco I de França,
sendo seus principais postos Honfleur e Dieppe. Incidentalmente, Jean Ango
viria a ser governador desta última cidade, ganhando também o título de
Visconde de Dieppe. Pelo que
se depreende de um mapa elaborado por Jacques de Vaulx, de Claye (1579), os
franceses tinha o projeto de conquistar parte do território nordestino, do rio
São Domingos (o Paraíba), ao rio Acaraú (no Ceará). Segundo informa o referido
mapa, os franceses contariam com a ajuda de dez mil silvícolas, inclusive os
Tarairiús, tapuias moradores nas ribeiras interioranas do Ceará e Rio Grande. No que
tange ao atual território paraibano, no trabalho de Jacques de Vaulx, de Glaye,
figura a Baía de São Domingos, local de onde partia o caminho, descrito como
aquele “por onde os selvagens vão adquirir o Pau-do-Brasil e há quarenta léguas
de caminho depois de São Domingos até a floresta”. A chamada “Floresta onde se
pega o Brasil”, correspondia à opulenta mata banhada pela bacia hidrográfica do
rio Paraíba... O
cronista português Gabriel Soares de Sousa, em seu TRATADO DESCRITIVO DO BRASIL
– 1587, menciona os locais do litoral norte-rio-grandense freqüentados pelos
franceses: 1. a
Enseada de Itapitanga (Pitininga); 2. o Rio
Pequeno, ou Baquipé, depois denominado Ceará-mirim, local penetrado pelas
chalupas francesas, que ali iam resgatar com o gentio o pau-de-tinta, “as quais
são das naus que se recolhem na enseada de Itapitanga”; 3. o Rio
Grande, ou Potengi, onde os franceses iam carregar muitas vezes; 4. o Porto
dos Búzios, na foz do rio Pirangi, onde “entram caravelões da costa em um
riacho, que neste lugar se vem meter no mar”; 5. a
Enseada de Tabatinga, entre o Porto dos Búzios e Itacoatiara (Ponta da Pipa),
“onde também há surgidouro e abrigada para navios em que detrás da ponta
costumavam ancorar naus francesas e fazer sua carga de pau-brasil; e,
finalmente, 6. a
enseada de Aratipicaba (Baia Formosa), “onde dos arrecifes para dentro entram
naus francesas e fazem sua carga”. Ao
tratar do atual território paraibano, Gabriel Soares de Sousa menciona a Baía
da Traição: “Nesta baía fazem cada ano os franceses muito pau de tinta e
carregam dele muitas naus”. Faz ele também referência ao rio São Domingos (o
Paraíba), onde entravam anualmente, “a carregar o pau de tinta com que abatia o
que ia para o Reino das mais capitanias por conta dos portugueses”. Entre os
rios Ararama (Gramame) e Abionaviajá (Abiaí), “ancoravam nos tempos passados
naus francesas, e daqui entravam para dentro”. Através de
antigos relatos, tem-se conhecimento de que o principal porto freqüentado pelos
franceses, na Capitania de João de Barros, era o rio Potengi, onde também
aportavam navios ingleses. Ali eram feitos os reparos necessários nas
embarcações, obtinham-se provisões de água, frutas, carnes e outros refrescos.
Segundo Frei Vicente do Salvador, no Rio Grande, os “franceses iam comerciar
com os potiguares, e dali saíam também a roubar os navios que iam e vinham de
Portugal, tomando-lhes não só as fazendas mas as pessoas, e vendendo-as aos
gentios que as comessem”. O
topônimo Refoles (ex-Nau de Refoles), coincidente com o trecho do Potengi onde
foi construída a Base Naval de Natal, lembra a presença naquele local, do
traficante francês Jacques Riffault. No Porto dos Búzios existia uma grande
concentração de franceses, diversos deles casados com potiguares. No rio
Potengi, distanciadas cerca de três quilômetros da sua barra, ainda existem
umas ruínas arquitetônicas, que no nosso entender teriam sido de uma antiqüíssima
casa-forte francesa, utilizada como aquartelamento e também no armazenamento de
mercadorias, objeto das permutas efetuadas entre franceses e potiguares. A
presença francesa na Capitania do Rio Grande foi encerrada com a atuação das
tropas trazidas pelo capitão-mor de Pernambuco, Manuel Mascarenhas Homem,
chegado à barra do Potengi em 25 de dezembro de 1597, e pelo capitão-mor da
Paraíba, Feliciano Coelho de Carvalho; este, a partir de abril de 1598. Os dois
capitães-mores desenvolveram atividades que culminaram com a expulsão dos
franceses da região, a edificação da Fortaleza dos Santos Reis da Barra do Rio
Grande, a pacificação dos indígenas potiguares e a fundação de uma cidade, que
depois receberia a denominação de Natal. Foi fundador da Cidade do Rio Grande,
Manuel Mascarenhas Homem, em 25 de dezembro de 1599. 3. O CAPITÃO-MOR MANUEL MASCARENHAS HOMEM: DE OLINDA AO RIO GRANDE D. Felipe de Espanha (I de
Portugal), por Carta Régia de 9 de novembro de 1596, ordenou a D. Francisco de Sousa,
Governador do Estado do Brasil, que enviasse à Conquista do Rio Grande o
capitão-mor de Pernambuco, Manuel Mascarenhas Homem. Outra Carta Régia, de 15
de março de 1597, determinava a Manuel Mascarenhas Homem, que procurasse a
ajuda do capitão-mor da Paraíba, Feliciano Coelho de Carvalho, de quem deveria
obter reforços de homens e armamentos para a campanha. O
Governador Geral Dom Francisco de Sousa encarregou-se do provimento da Jornada
do Rio Grande, providência de que nos dá notícia Diogo de Campos Moreno, em sua
JORNADA DO MARANHÃO. Foram obtidos recursos, provenientes das seguintes fontes: §
12 mil cruzados em dinheiro da nau da Índia, que foi ter à
Bahia de Todos os Santos; §
os direitos dos escravos de Angola; §
um cruzado de tributo sobre cada caixa de açúcar, que se
carregava naquele porto; §
todo o dinheiro que estava recolhido dos defuntos e
ausentes; §
os sobejos dos dízimos. Muitos
particulares também contribuíram, havendo um deles que às suas custas gastou
dez mil cruzados na Jornada. “Mascarenhas também recebeu ordem para nomear, e
dar cargos e ordenados, quais lhe bem parecesse, como um efeito deu”. Segundo
o ÍNDICE DE DOCUMENTOS RELATIVOS AO BRASIL, PERTENCENTES AO ARQUIVO NACIONAL DE
LISBOA, em Pernambuco foram feitos reparos em uma nau francesa, especialmente
comprada para participar da Jornada do Rio Grande. Na nau “Nossa Senhora da Boa
Viagem”, também ocorreram reparos, tornando-a em condições de viajar ao Rio
Grande. Os
episódios ocorridos, relacionados com a vinda ao Rio Grande da expedição que
pretendia a expulsão dos franceses, foram objeto de descrição por parte do
franciscano Frei Vicente do Salvador e do padre Pero Rodrigues, jesuíta. Na Bahia
foi preparada uma armada de 6 navios e 5 caravelões, seguindo a mesma para o
porto da Paraíba, onde embarcaria o capitão-mor Manuel Mascarenhas Homem. Era
Capitão-mor da armada Francisco de Barros Rego; almirante, Antônio da Costa
Valente; e por capitães dos outros navios, João Pais Barreto, Francisco Camelo,
Pero Lopes Camelo e Manuel da Costa Calheiros. De
Pernambuco seguiram com Manuel Mascarenhas Homem para a Paraíba, três
companhias “de gente de pé” comandadas pelos capitães Jerônimo de Albuquerque,
seu irmão Jorge de Albuquerque e Antônio Leitão Mirim, além de uma companhia de
cavalos capitaneada por Manuel Leitão. O percurso Pernambuco-Paraíba foi
realizado por terra. Da
Paraíba partiu a armada, conduzindo Manuel Mascarenhas Homem. Nela vieram os
jesuítas Gaspar de Samperes e Francisco de Lemos, assim como os franciscanos
Bernardino das Neves e João de São Miguel. O padre Gaspar de Samperes era
profundo conhecedor das técnicas de engenharia e arquitetura; Frei Bernardino,
perito no idioma brasílico. Segundo
o padre Pero Rodrigues, partiram por terra da Paraíba com Feliciano Coelho de
Carvalho, trezentos “homens de espingarda”, cinqüenta “homens de cavalo”,
novecentos frecheiros indígenas, além de muita escravaria de Guiné, que
transportava as munições e os apetrechos de guerra. Frei
Vicente do Salvador informa que a tropa partiu das fronteiras da Paraíba (Baía
da Traição) em 17 de dezembro de 1597. Vieram com Feliciano Coelho de Carvalho
os quatro capitães e suas companhias da gente de Pernambuco, além de uma outra
companhia da Paraíba, cujo capitão era Miguel Alves Lobo, totalizando 178 “homens
de pé e de cavalo”. Acompanhavam também a tropa 90 frecheiros de Pernambuco e
730 tabajaras da Paraíba, com seus principais: o Braço de Peixe, o Assento
de Pássaro, o Pedra Verde, o Mangue e o Cardo Grande... Pretendia
Feliciano Coelho ir destruindo as aldeias encontradas pelo caminho até chegar
ao Rio Grande, tarefa que levaria alguns meses para conclusão. À frente da
tropa seguiam espias e corredores queimando algumas aldeias, cujos moradores
fugiam amedrontados. Depois
de quatro ou cinco dias de jornada, verificou-se a presença do mal de bexigas
no arraial de Feliciano, ocorrendo uma intensa mortandade, que levava dez a
doze pessoas diariamente! Ante a epidemia, Feliciano regressou à Paraíba e as
tropas pernambucanas à sua terra. Jerônimo de Albuquerque embarcou em um
caravelão e foi ter ao Rio Grande, para juntar-se a Mascarenhas Homem. Informa
Pero Rodrigues, que se retirando Feliciano Coelho de Carvalho para a sua terra,
os potiguares seguiram as tropas simuladamente, devorando os cadáveres, após partirem-lhes
as cabeças! O gentio tendo adquirido a varíola, sofreu uma mortandade que
ceifou cerca de 2/3 de sua população. Houve aldeia em que morriam cem pessoas
por dia! Quando a
armada passava à altura do Porto dos Búzios, os portugueses divisaram a presente
de sete naus francesas, as quais fugiram, não sendo perseguidas devido ao
adiantado da hora. 4. O ARRAIAL DA BARRA DO RIO GRANDE Informa a carta do padre Pero
Rodrigues, que a armada penetrou pela barra do Rio Grande no dia de Natal, 25
de dezembro de 1597. Na armada, de 14 velas, vinham 400 homens. Frei Vicente do
Salvador esclarece que a armada chegou pela manhã, tendo ido dois caravelões
“descobrir o rio, o qual descoberto e seguro, entrou a armada à tarde guiada
pelos marinheiros dos caravelões que o tinham sondado”. Ainda, segundo Frei
Vicente do Salvador, “ali desembarcaram e se entrincheiraram de varas de
mangues pera começarem a fazer o forte e se defenderem dos potiguares”. Em que
ponto do Potengi teria ocorrido o desembarque? Obviamente no mesmo local onde
ocorreria, trinta e seis anos depois, o desembarque da armada holandesa,
invasora do Potengi, no porto hoje conhecido como Canto do Mangue, no bairro
das Rocas. Uma gravura holandesa intitulada “Verovinge van Rio Grande in Brazil
Anno 1633”, de autoria de Commelyn, representando o Assédio do Rio Grande,
focaliza a armada holandesa ancorada na barra do riacho que provém da antiga
Lagoa do Jacó. O porto fluvial utilizado para desembarque da armada de
Mascarenhas, distava apenas 1.300 metros do pontal onde seria construída a
pretendida fortaleza. Informa
a carta do padre Pero Rodrigues, que logo no dia seguinte, 26 de dezembro,
tomaram os portugueses posse da terra. Como sabemos, essa operação possessória
era representada, à época, pelo chantamento de um marco ou padrão de pedra, ou
arenito. Uma
gravura portuguesa, de 1609, encontrada pelo historiador José Gonsalves de
Mello no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Portugal), intitulada “Perspectiva
da Fortaleza da Barra do Rio Grande”, menciona a existência defronte à
fortificação, de um “padrão de areia a 100 passos da fortaleza”, distância
equivalente a 165 metros. Na mesma gravura figuram ainda uma cruz (indicativo
da existência de uma igreja), a “casa do tenente” e um padrasto (duna). As edificações
compunham o Arraial e ficavam em área próxima ao atual Círculo Militar de
Natal. Um mapa
de autoria de João Teixeira Albernaz, o velho, intitulado RIO GRANDE, publicado
em 1631 e pertencente à mapoteca do Itamaraty, no Rio de Janeiro, traça uma descrição
da região onde foi construída a fortaleza. Defronte a esta, acha-se
representado um “médão de areia, distante da fortificação 73 braças e meia”,
(161,7 m), a qual erguia-se a uma altura de 60 pés (19,8 m). O referido médão
estendia-se por 67 braças de comprimento (149,6 m), apresentando uma largura de
48 pés (15,84 m), e fazia parte de um conjunto de médãos, por detrás do qual
foi edificado o arraial, o qual distava um pouco além de 311,3 m, contados da
entrada da fortaleza. No
relato do padre Pero Rodrigues, os portugueses após o desembarque, “se
entrincheiraram com a maior pressa, que puderam, por causa dos contrários”.
Observando-se as condições geográficas do local onde foi erguida a fortaleza,
torna-se óbvio que o entrincheiramento feito de varas de mangues, procuraria
isolar a área de possíveis ataques dos indígenas e seus aliados franceses, que
viriam por terra pelo rio Potengi. No interior da área isolada pela cerca, teve
início o assentamento de um Arraial, composto de rústicas choupanas e onde
moraria o pessoal envolvido no processo de edificação da fortaleza. Na carta do
padre Pero Rodrigues, há duas menções ao Arraial. Em gravuras holandesas, uma
delas intitulada”Afbeeldinghe van t’Fort op Rio Grande ende Belegeringhe”,
incluída no livro de Laet, e a já mencionada “Verovinge van Rio Grande in
Brazil Anno 1633”, ainda se achava retratado o velho arraial Mascarenhas Homem,
resistindo à “concorrência” representada pela Cidade do Natal!... 5. A FORTALEZA DOS SANTOS REIS DA BARRA DO RIO GRANDE A construção da Fortaleza dos
Santos Reis da Barra do Rio Grande foi iniciada no dia de Reis, 6 de janeiro do
ano de 1598, que caiu numa terça-feira. Foi autor da traça da fortificação o
padre jesuíta Gaspar de Samperes, natural do reio de Valência, ex-participante
da milícia, homem versado em engenharia e arquitetura. O material empregado na
edificação da fortaleza foi a taipa, como geralmente ocorria à época.
Inicialmente eram colocadas grossas vigas de madeira, muito juntas, sendo em
seguida aplicado um espesso forro de barro, à época denominado de entulho.
Serviu de alicerce a própria rocha, representada por uma “lájea banda”. Segundo
Frei Vicente do Salvador, a 30 de março de 1598, partiu da Paraíba com destino
ao Rio Grande o capitão-mor Feliciano Coelho de Carvalho, conduzindo consigo
uma companhia de 24 homens “de cavalo”, e duas “de pé”, de 30 arcabuzeiros cada
uma, das quais eram capitães Antônio de Valadares e Miguel Álvares Lobo.
Seguiram também 350 indígenas com seus principais. Pelo caminho encontraram
apenas aldeias evacuadas pelos seus moradores índios. Informado de que a aldeia
dos potiguares, de onde partiam os ataques ao pessoal de Mascarenhas Homem, era
aquela onde morava o principal Potiguaçu – distanciada apenas uma légua da
fortaleza -, resolveu Feliciano Coelho de Carvalho chegar à dita aldeia de
surpresa. Ali chegando, o capitão-mor constatou que a aldeia, grande e
fortemente cercada, fora despejada pelos seus moradores. No dia
seguinte Mascarenhas Homem foi visitar Feliciano, ocasião em que trataram sobre
as providências que deveriam ser adotadas, com vistas ao término das obras da
fortaleza, “porque tinham ainda grandes entulhos e outros serviços para fazer”.
Ficou resolvido que a companhia de cavalo vinda da Paraíba e a gente do chefe
indígena Braço de Peixe trabalhariam um dia e Antônio de Valadares com a
gente do Assento de Pássaro outro dia seguinte. Finalmente, no terceiro
dia, se ocupariam dos trabalhos Miguel Álvares Lobo com os indígenas do Pedra
Verde. Serviam de intérpretes Francisco Barbosa, Antônio do Poço e José
Afonso Pamplona. O pessoal vindo da
Paraíba ficou alojado naquela aldeia abandonada, do outro lado do Potengi, onde
morara anteriormente o chefe Potiguaçu. Finalmente,
no dia 24 de junho de 1598, Mascarenhas Homem acabou a fortaleza, deixando-a
muito bem fornecida “de gente, artilharia, munições, mantimentos e tudo o
mais”, indo dormir na antiga aldeia do Camarão. No dia seguinte os dois
capitães-mores partiram para as suas capitanias, “com muita paz e amizade”. Segundo
Frei Vicente do Salvador, naquele dia 24 de junho, Manuel Mascarenhas Homem
entregou a fortificação a Jerônimo de Albuquerque, “tomando-lhe homenagem como
se costuma”. Documentação posteriormente encontrada, indica ter havido um
engano por parte do historiador franciscano: o agraciado com a nomeação para
Capitão da Fortaleza do Rio Grande fora João Rodrigues Colaço... Durante
cerca de trinta anos a fortaleza recebeu melhoramentos, inclusive um processo
de “encamisamento”, que corresponde ao revestimento das muralhas de taipa com
pedras de silharia. Adianto
Verdonck, espião holandês, em 1630 descreveu as muralhas da Fortaleza dos
Santos Reis Magos: “... as muralhas podem ter 9 ou 10 palmos de espessura e são
dobradas tendo o intervalho de barro”. 6. A FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA APRESENTAÇÃO DO RIO GRANDE Na
“RELAÇÃO DE AMBRÓSIO DE SIQUEIRA (1605) DA RECEITA E DESPESA DO ESTADO DO
BRASIL” constam algumas informações, muito esclarecedoras, sobre a origem da
Freguesia do Rio Grande. O Licenciado Ambrósio de Siqueira era o Ouvidor-geral
e Provedor-mor da Fazenda de sua Majestade, em todo o Estado do Brasil. Através
daquela “RELAÇÃO”, verifica-se que o padre Gaspar Gonçalves Rocha, provido pelo
Governado Geral D. Francisco de Sousa em 3 de fevereiro de 1598, assumiu a sua
freguesia do Rio Grande em 24 de junho, quando Manuel Mascarenhas Homem
empossou o primeiro capitão da Fortaleza do mesmo Rio Grande, João Rodrigues
Colaço. Na
igrejinha do Arraial comemorou-se a Quaresma e a Semana Santa de 1598; esta última,
coincidente com os dias 15 a 22 de março. A carta do padre Pero Rodrigues
descreve aquelas festividades religiosas, celebradas com as limitações
naturais, impostas pelo estado de beligerância. 7. A REAÇÃO DOS POTIGUARES À PRESENÇA PORTUGUESA NO RIO GRANDE A carta do padre Pero Rodrigues,
datada de 19 de dezembro de 1599 do Colégio da Bahia, e o relato de Frei
Vicente do Salvador, nos fornecem minuciosas informações sobre a reação dos
indígenas potiguares à presença portuguesa no Rio Grande. Podemos dividir essa
guerra dos potiguares em duas fases: a primeira delas, contra os potiguares do
Rio Grande, já pacificados quando da partida dos padres Gaspar de Samperes e
Francisco Pinto em 19 de abril de 1599; a segunda, movida contra os potiguares
da Paraíba, foi encerrada com o tratado de pazes, firmado na Felipéia em 11 de
junho de 1599. Pero
Rodrigues descreve que dez ou doze dias depois da chegada dos portugueses ao
Rio Grande, o maioral Mar Grande veio combater os recém-chegados,
trazendo dois mil frecheiros indígenas. Travou-se então uma batalha na praia,
na qual foi aprisionado Mar Grande juntamente com oito companheiros,
cujas vidas foram poupadas. Informaram eles aos portugueses, que cinqüenta
franceses arcabuzeiros, com vinte mil indígenas, planejavam atacar o arraial.
Frei Vicente esclarece o caso: em uma madrugada chegaram os indígenas,
acompanhados dos cinqüenta franceses que haviam ficado nas naus do porto dos
Búzios, e outros que ali estavam casados com mulheres potiguares. Os atacantes
realizaram um assédio à cerca, ferindo a muitos defensores com pelouros e
frechas que atiravam por entre as varas. No combate foi ferido no pescoço com
uma frechada o capitão Rui de Aveiro. Segundo o padre Pero Rodrigues,
espantados os atacantes com o troar da artilharia que defendia o arraial, não
tiveram êxito em seu empreendimento bélico. Voltemos
ao silvícola Mar Grande, aprisionado pelos portugueses: o padre
Francisco de Lemos informou aos potiguares que o referido maioral estava vivo;
tendo, inclusive, promovido um encontro indígena com os seus companheiros. Na
ocasião Mar Grande “começou de pregar aos seus que dali por diante não
lançassem mais mão dos arcos nem espadas contra portugueses”. Recomendou também
que os outros principais viessem falar com os padres, o que foi aceito por
alguns deles. Frei
Vicente do Salvador descreve o episódio envolvendo o índio Surupiba, que
desceu o rio em uma jangada de juncos, com propostas de paz. Foram-lhe então
dados vestidos e outras cousas para serem entregues ao seu povo. Duas vezes
mais, Surupiba mandou pedir novos presentes, alegando já haver
apaziguado os indígenas, que vinho a caminho de entregar-se... Vinte
soldados, com o cabo Bento da Rocha, foram em dois batéis cortar mangues em uma
enseada, vendo-se então cercados pelos indígenas, que aguardavam a maré baixa
para atacar os portugueses. Um dos batéis logrou escapar da cilada, dando então
aviso ao outro, saindo todos ilesos. Eram os potiguares de Surupiba... Depois
desse episódio sucederam ainda outros assaltos dos potiguares ao arraial. Ficou
difícil a obtenção de água, devido ao contínuo cerco exercido pelos potiguares.
Os sitiados “escassamente podiam ir buscar água para beberem a uns poçozinhos
que tinham perto da cerca, e essa muito ruim”. Na
ocasião desesperadora chegou Francisco Dias de Paiva, amo do capitão-mor, que o
criou, com um urca do reino mandada por Sua Majestade, com artilharia, munições
e outros provimentos para o forte que se fazia. Na
JORNADA DO MARANHÃO, de Diogo de Campos Moreno, informa-se que, no Recife,
Alexandre de Moura mandava ao Rio Grande todos os navios de provimentos,
vinhos, azeites, comidas, “assim como chegavam do Reino”. Sua Majestade também
enviou duas grandes urcas, “pela diligência e zelo do Conde Meirinho Mor, que
governava a Fazenda Real em Portugal”, nas quais vieram “nove peças de alcance
de bronze, e muitas de ferro coado, com tantas munições, armas e comida, que
hoje parece coisa incrível”. Depois
da chega de Feliciano Coelho de Carvalho, aportou um barco vindo da Paraíba com
refrescos de vitela, galinha e outros mantimentos que Pero Lopes Lobo,
loco-tenente do capitão-mor Feliciano, lhe enviou. Pelo pessoal do barco soube
Mascarenhas Homem, que no porto dos Búzios achava-se surta uma nau francesa,
lançando gente em terra. Reunindo todo o pessoal de cavalo disponível, trinta
soldados arcabuzeiros e muitos índios, atacou ele as choupanas em que os
potiguares estavam já comerciando com os franceses. Foram mortos treze e
aprisionados sete indígenas e três franceses. Vez por
outra, os paraibanos realizavam sortidas contra aldeias inimigas. Em uma delas
foram mortos mais de 400 potiguares e cativos 80. Os indígenas eram orientados
pelos franceses, que não renunciavam ao controle exercido sobre os seus
aliados. Os
episódios ocorridos depois da partida dos capitães-mores Manuel Mascarenhas
Homem e Feliciano Coelho de Carvalho para as sua capitanias, em 25.06.1598,
foram bens descritos por Frei Vicente do Salvador. Seis dias depois da partida
do Rio Grande foi atacada a primeira aldeia potiguar encontrada, na qual foram
mortos e cativos mais de 1.500 indígenas. Quatro dias depois foi a vez de uma
outra aldeia, em cujo combate tombaram 150 potiguares. Finalmente chegaram as
tropas dos dois capitães-mores às fronteiras da Paraíba (Baía da Traição).
Despedindo-se Mascarenhas Homem do colega Feliciano, ocasião em que se dirigiu
a Pernambuco. 8. A PACIFICAÇÃO DOS POTIGUARES De Pernambuco viajou o capitão-mor
Manuel Mascarenhas Homem à Bahia, onde manteve entendimentos com o governador
geral D. Francisco de Sousa, a respeito da pretendida pacificação dos
potiguares. Obteve do padre Pero Rodrigues, no Colégio Jesuíta da Bahia, o
concurso do padre Francisco Pinto, “dos melhores línguas desta província, e por
tal conhecido a cessão do padre Samperes. Em seguida, viajaram os padres e o
capitão-mor para o Rio Grande. Tendo
ali chegado, o padre Pinto enviou recados aos chefes indígenas do Rio Grande
para que viessem se encontra com ele. Então compareceu “o maior de toda aquela
comarca, por nome o “Camarão Grande” (Potiguaçu). Declarou Camarão,
que vinha cuidar da pazes, e que “depois delas feitas, trataria do que a ele e
aos seus pertencia no negócio da salvação”. Segundo o relato do Frei Vicente do
Salvador, o padre Samperes combinou com Jerônimo de Albuquerque (sic), um plano
para obterem a desejada paz com os potiguares da Paraíba. O padre Pero
Rodrigues esclarece que a tudo isto se acharam presentes Mascarenhas Homem e o
capitão da fortaleza, João Rodrigues Colaço, e não Jerônimo de Albuquerque. O
plano aludido foi Frei Vicente do Salvador, seria o de soltarem o índio Ilha
Grande, “principal e feiticeiro”, e mandá-lo tratar das pazes com os seus
parentes. Da primeira aldeia visitada por Ilha Grande, saíram então
emissários às demais aldeias do litoral paraibano e de Copaoba, região onde
eram maiorais o Pau Seco e Zorobabé. O plano
traçado deu bons resultados, pois muitos chefes indígenas procuraram a
fortaleza, a fim de tratarem de pazes. Segundo a carta de Pero Rodrigues,
feitas as pazes com os potiguares do Rio Grande, ainda restava fazê-las com os
moradores do sertão de Copaoba, região hoje correspondente ao Brejo da Paraíba,
trinta léguas pela terra a dentro. Para lá foi enviado o Mar Grande. Pau Seco atendeu
aos apelos do padre Pinto. Chegou ele a uma aldeia de um seu parente, obra de
meia légua da fortaleza, tendo enviado um recado ao jesuíta para que este fosse
àquela aldeia. Esta ficada em um alto, local que nos parece coincidir com o
sítio histórico onde seria fundada a cidade, na atual praça André de
Albuquerque e arredores. Depois de manter os primeiros contatos com o padre
Francisco Pinto, Pau Seco dirigiu-se à fortaleza, acompanhado pelo
jesuíta, onde foi muito bem acolhido por Mascarenhas Homem e João Rodrigues
Colaço. Este presenteou o indígena com uma roupeta e uma cruz de comenda, que
foi colocada no peito. Ficou então combinado, por sugestão do indígena, que o
mesmo iria a Copaoba, em companhia dos padres Francisco Pinto e Gaspar de
Samperes. Partiram aos 19 de abril de 1599, com o intuito de pacificaram os
potiguares, ali moradores. Nas
aldeias visitadas o Pe. Pinto pregava aos índios. Finalmente chegaram à aldeia Pau
Seco, onde ficaram acomodados. Ficou acertado que os principais de Copaoba
acompanhariam os padres à Paraíba para cumprir as pazes. Partiram os padres da
aldeia do Pau Seco no dia 23 de maio de 1599. Na aldeia os jesuítas
haviam contraído doenças: o padre Pinto, febres contínuas; Samperes, terçãs. Às
vezes, este último era conduzido em uma rede, por não poder caminhar... Depois
de cerca de 15 dias de viagem, chegaram à Filipéia de Nossa Senhora das Neves,
por coincidência no mesmo dia em que ali também chegavam os capitães
portugueses que haveriam de participar do tratado de pazes. Aos 11
de junho de 1599, naquela Felipéia, foram celebradas as pazes com as
solenidades de direito, estando presentes Manuel Mascarenhas Homem, capitão-mor
de Pernambuco; Feliciano Coelho de Carvalho, capitão-mor da Paraíba, com os
oficiais da Câmara e os capitães locais; os capitães da Ilha de Itamaracá; o
capitão Alexandre de Moura, que sucederia a Mascarenhas Homem no governo de
Pernambuco; Braz de Almeida, provedor; os jesuítas Gaspar de Samperes e
Francisco Pinto; Frei Bernardino das Neves, servindo na ocasião de intérprete
oficial para a cerimônia; dos silvícolas a figura principal era o Pau Seco,
estando presentes os indígenas cristãos Braço de Peixe e seu filho Braço
Preto, Pedra Verde e um outro maioral; dos potiguares trazidos do
Rio Grande e da Copaoba, quarenta ou cinqüenta indígenas, dos quais quinze ou
vinte eram principais. As pazes foram pregoadas na vila de Pernambuco. Com a
pacificação celebrada na Filipéia, tornou-se possível a fundação da Cidade do
Rio Grande (hoje, Natal), o que ocorreu no dia 25 de dezembro de 1599, por
iniciativa de Manuel Mascarenhas Homem, Capitão-mor da Conquista do Rio Grande. Quase
dois anos decorridos daquela fundação, chegou às mãos daquele capitão-mor de
Pernambuco uma carta que foi enviada pelo ex-capitão-mor da Paraíba, Feliciano Coelho
de Carvalho, informando encontrar-se o Rio Grande, cercado pelos potiguares
sublevados; adiantando mais, que se não fosse socorrido com a possível
brevidade, el-rey perderia a cidade e todos eles a vida. Manuel Mascarenhas
abalou-se em socorro de Feliciano, à frente de uma tropa composta de 400
portugueses e 3.000 indígenas. Após 7 dias de viagem, chegou Mascarenhas à
Cidade do Rio Grande, pelo final de outubro de 1601, travando então combate com
os potiguares levantados, do que resultou a vitória do partido português. Foi este
o último episódio registrado pela história, relacionado com o ex-capitão-mor da
Paraíba com o Rio Grande... Obrigado
pela atenção. ENCERRAMENTO A fala do Presidente: Agradecemos
ao ilustre conferencista por seu excelente trabalho, perfeito e bem acabado, em
linguagem escorreita, uma narrativa da fase colonial esclarecedora dos
episódios, que, desde o século XVI, vinculam a Paraíba ao Rio Grande do Norte. Essas
vinculações continuaram durante o Império e a República. Vários paraibanos
influíram na vida política e social do Rio Grande do Norte, e lá vivem muitos
conterrâneos. Nossos
Institutos Históricos, por exemplo, mantêm um relacionamento de grande
intercâmbio e cordialidade, havendo mesmo um entrelaçamento de sócios que pertencem
às duas agremiações culturais, como é o caso do ilustre companheiro, que é
nosso sócio correspondente. É
oportuno comunicar-lhe, caro confrade Olavo de Medeiros Filho, que esta
solenidade marca também o nosso regozijo da Paraíba pela passagem do IV Centenário
da Fundação da Cidade de Natal, que o povo potiguar vem comemorando desde o ano
passado com a construção da Fortaleza dos Reis Magos. Quando Manoel de
Mascarenhas entregou a Jerônimo de Albuquerque o forte acabado, podemos dizer,
que o Rio Grande estava conquistado com o apoio de Feliciano Coelho de
Carvalho, governador da nossa Capitania, que para lá foi com nossa gente. Transmita,
caro consócio Olavo, aos seus pares do valoroso Instituto do Rio Grande do
Norte, o registro do nosso regozijo pela efeméride que vocês vêm comemorando
com grandes realizações culturais. Esta
sessão foi glorificada ainda mais pelo lançamento da plaqueta de autoria do
nosso consócio Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, que dentro da nossa Coleção de
Historiadores Paraibanos, nos apresentou seu trabalho abordando a vida e obra
do historiador Manuel Tavares Cavalcanti, com a apresentação do confrade Joacil
de Britto Pereira. Cumpre-me
agradecer a todos os expositores, debatedores e participantes inscritos pelo
seu desempenho durante nossas sessões de debates. Foram
expositores dos diversos temas os seguintes historiadores, pela ordem de
apresentação: Regina Célia Gonçalves, da Universidade Federal da Paraíba; Rosa
Maria Godoy Silveira, Chefe do Departamento de História da UFPB; Carlos André
Macedo Cavalcanti, Diretor de Cultura da Fundação Espaço Cultural; e os
seguintes membros do Instituto Histórico: Aécio Villar de Aquino (falecido
posteriormente), Waldice Mendonça Porto, Wilson Nóbrega Seixas, José Elias
Borges Barbosa, Diana Soares de Galliza, José Octávio de Arruda Mello, Martha
Maria Falcão, Humberto Cavalcanti de Mello, Fátima Araújo, Manuel Batista de
Medeiros, Hélio Nóbrega Zenaide, Joacil de Britto Pereira, Guilherme d’Avila
Lins e Luiz Hugo Guimarães. Serviram como debatedores: o historiador Luiz de Barros Guimarães e a
professora Zilma Ferreira Pinto, do Instituto Paraibano de Genealogia e
Heráldica; professora Inês Caminha Lopes Rodrigues, professora da UNIPÊ; Grão
Mestre Edgard Bartolini Filho; jornalista e acadêmico Luiz Gonzaga Rodrigues; e
os associados do IHGP Wellington Aguiar, Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, Joacil
de Britto Pereira, Guilherme d’Avila Lins, Waldice Mendonça Porto, Aécio Villar
de Aquino, Dorgival Terceiro Neto, Eurivaldo Caldas Tavares e Luiz Hugo
Guimarães. Como
coroamento do conclave teremos a satisfação de entregar-lhes um Certificado de
sua participação. E o faremos, iniciando pelo último expositor, o historiador
OLAVO DE MEDEIROS FILHO, a quem eu tenho a honra de passar-lhe às mãos o seu
Diploma como expositor. Aos
demais expositores, peço que se considerem recebedores dos seus Diplomas, os
quais lhes serão entregues logo após a sessão. Todavia, simbolizando o grupo de
expositores faremos a entrega ao nosso historiador mais antigo, o consócio
WILSON NÓBREGA SEIXAS. Aos debatedores, pela mesma razão,
homenageando o mais antigo, faremos a entrega do Diploma ao consócio Monsenhor
Eurivaldo Caldas Tavares, devendo os demais recebê-los após a sessão. Aos
participantes, ainda pela mesma razão, faremos a entrega do diploma ao
participante mais idoso e que teve freqüência CEM PORCENTO, historiador e
jornalista João Batista Barbosa. Finalmente, com grande
contentamento, convidamos os presentes para um coquetel de confraternização,
oferecido pelo escritor Marcus Odilon Ribeiro Coutinho e sua esposa Dra. Ana
Lúcia Ribeiro Coutinho, no salão da Biblioteca Irineu Pinto. Com os
meus agradecimentos pela presença das autoridades, confrades e convidados, dou
por encerrada esta sessão solene.