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10º Tema A REVOLUÇÃO DE 30 E A PARAÍBA Expositor: Humberto Cavalcanti de Mello Debatedor: Dorgival Terceiro Neto A fala do Presidente: Estamos reiniciando nosso Ciclo de
Debates e hoje vamos apreciar o tema A REVOLUÇÃO DE 30 E A PARAÍBA, que será
examinado pelo historiador Humberto Cavalcanti de Mello, o qual convido para
participar da Mesa; será debatedor oficial o confrade Dorgival Terceiro Neto,
que também convido para tomar assento na mesa dos trabalhos; convido também o
acadêmico Joacil de Britto Pereira, presidente da Academia Paraibana de Letras. Ninguém melhor do que os nossos
associados Humberto e Dorgival do nosso Instituto, convidados que já estão a
postos, para apreciarem o tema de hoje. Numa breve apresentação do
expositor, posso lembrar que Humberto Cavalcante de Mello é ex-presidente deste
Instituto e membro da Academia Paraibana de Letras. Ex-professor de Direito da
Universidade Federal da Paraíba, da UNIPÊ e da Universidade Regional do Nordeste, exerceu também a
magistratura como Juiz de Direito. Seus trabalhos justificam o
convite que a Comissão Executiva do Instituto fez para atuar neste Ciclo,
citando entre eles A TRAJETÓRIA POLÍTICA DE EPITÁCIO PESSOA; JOÃO PESSOA –
PERFIL DE UM HOMEM; A ADMINISTRAÇÃO DE JOÃO PESSOA; e A PARAÍBA E A REVOLUÇÃO
DE 30, cujo título inspirou o tema que vamos debater. Além dessas obras,
escreveu INSTITUIÇÕES DA PARAÍBA COLONIAL. É um dos nossos historiadores mais
atualizados e atentos à realidade atual. Passo a palavra ao confrade
Humberto Mello. Expositor: Humberto Cavalcanti de Mello (Sócio do Instituto e da Academia
Paraibana de Letras, professor da UFPB, URNE e UNIPÊ, com vários trabalhos
sobre o tema) Para tratar desse tema A REVOLUÇÃO DE 30 E A
PARAÍBA, devo começar citando uma intervenção aqui, há uma semana, da professora
Inês Caminha. A Revolução de 30 significou o final da Primeira República no
Brasil, também chamada República Velha, República das oligarquias, República
dos Coronéis, que se iniciou com o golpe militar encabeçado por Deodoro da
Fonseca, em 1889, e vai até 1930, durando, portanto, pouco mais de 40 anos. Essa chamada República Velha, em
termos nacionais, apresentou um predomínio muito grande das oligarquias.
Começou a República com dois militares na direção do país: Deodoro da Fonseca e
Floriano Peixoto. Um, que esteve à frente do golpe de 1889 e o outro, que deu
um golpe constitucional em 1891, quando, como Vice-presidente, pela
Constituição da época devia fazer a eleição para Presidente, apossou-se do
poder até o fim do mandato do seu antecessor. E depois veio uma série de
paulistas. O Partido Republicano tinha sido fundado em São Paulo, quando houve
a Convenção de Itu, em 1870, e por isso São Paulo se achava no direito de
comandar o Brasil. Então tivemos Prudente de Morais, Campos Sales, Rodrigues Alves.
Quando se preparava um quarto presidente paulista, que seria Bernardino de
Campos, houve uma reação dos outros Estados, principalmente Minas Gerais.
Minas, a esse tempo, era o mais importante Estado brasileiro, no sentido de ser
o mais populoso e ter a maior representação política. Minas Gerais não aceitou.
Ainda no Governo de Rodrigues Alves foi firmado o pacto de Ouro Fino, uma
cidade mineira onde houve o encontro da cúpula governamental brasileira, onde
se iniciou o esquema que ficou conhecido como “política do café-com-leite”.
Café-com-leite porque São Paulo era o maior produtor de café e Minas Gerais se
destacava na criação do gado leiteiro. Essa política se inicia com o Presidente
mineiro Afonso Pena, que não chegou a concluir o mandato, pois veio a falecer.
Na sucessão de Afonso Pena começou a surgir uma série de disputas e terminou se
impondo a candidatura de Hermes da Fonseca, que era o Ministro da Guerra,
sobrinho de Deodoro da Fonseca, e contra a qual São Paulo se levantou, apoiando
o nome civil mais ilustre de então, que era Rui Barbosa. Veio a chamada
“campanha civilista”. No final de contas, Hermes da Fonseca venceu. Ainda hoje
se discute se a eleição foi limpa ou não, porque tudo indica que foi fraudada,
e Hermes desempenhou o seu período governamental. Depois a política do
café-com-leite voltou. Entra o presidente mineiro Venceslau Braz, em 1914, e
depois veio o presidente paulista novamente, o ex-presidente Rodrigues Alves,
que deixou a fama de ter feito o melhor dos governos da República Velha. Ocorre
que Rodrigues Alves, eleito em 1918, não chegou a assumir. Aconteceu com
Rodrigues Alves o mesmo que viria acontecer, quase setenta anos depois, com
Tancredo Neves. Eleito, adoeceu, não assumiu e morreu pouco depois do dia em
que deveria tomar posse. Rodrigues Alves foi vítima de uma pandemia, uma
epidemia que cobriu o mundo todo, uma epidemia chamada “gripe espanhola”.
Assumiu o Vice-presidente Delfim Moreira, que era mineiro. Deveria haver a
eleição para o cargo de Presidente, a qual foi realizada e foi eleito o
paraibano Epitácio Pessoa, que estava chefiando a delegação brasileira à
Conferência de Paz de Versalhes, ao final da primeira guerra mundial. Antes da
eleição de Epitácio Pessoa surgiram especulações sobre a indicação de mineiros
ou paulistas. Epitácio surgiu como um tertius. Afonso Arinos de Melo Franco, que
escreveu uma biografia muito boa sobre Rodrigues Alves, conclui essa biografia
dizendo que a morte de Rodrigues Alves significou a morte da República, na sua
primeira fase. O regime já estava se mostrando cansativo, fatigado, aquele
domínio de trinta anos seguidos e então Afonso Arinos disse que, como o regime
se enfraquecia foram necessários presidentes fortes. E foram três, Epitácio Pessoa,
depois o mineiro Artur Bernardes e depois o paulista Washington Luís. Nessa
sucessão significava que a sucessão coubesse a um mineiro, e o mineiro mais
indicado era o presidente do Estado de Minas Gerais, Antônio Carlos,
pertencente à família mais ilustre da política brasileira, descendente direto
de Martim Francisco, que era irmão de José Bonifácio – Patriarca da
Independência. Mas Antônio Carlos tinha a fama de
ser um político extremamente matreiro, muito esperto, muito chegado a dar
golpes e com isso criou um atrito forte, começando a surgir uma certa
resistência ao seu nome. O próprio Washington Luís não queria. Há indícios de que Washington Luís
tinha um nome em vista, que nem seria mineiro nem paulista. Era um gaúcho. O
Rio Grande do Sul ocupava uma situação interessante, era um Estado todo
diferente. A Constituição do Rio Grande do Sul permitia a reeleição. O
presidente do Estado tinha poderes absolutos, basta dizer que a Assembléia
Legislativa do Rio Grande do Sul, pela constituição do Estado, se reunia apenas
dois meses por ano, para aprovar o orçamento. Só. E o presidente podia ser
reeleito. Antônio Borges de Medeiros era reeleito continuadamente, embora para
ser reeleito tivesse que ter 75 por cento dos votos. A fraude eleitoral
campeava. Naquele tempo os Estados tinham um
peso muito mais forte do que hoje. E a legislação federal determinava que cada
Estado escolhesse a maneira de votar. Então havia três opções: o voto secreto,
o voto chamado semi-secreto e o voto aberto, declarado. O voto secreto nenhum
Estado adotou. Dos vinte Estados de então, dezenove adotaram o voto
semi-secreto. Era chamado semi-secreto porque o eleitor quando chegava na
cabine dizia ao dirigente da mesa: quero votar em Fulano, ou do partido tal.
Recebia a cédula e punha na urna. Na apuração, as urnas eram misturadas e assim
não se identificava de quem era o voto. Mas no Rio Grande do Sul o voto era
aberto, declarado. Havia uma cédula onde o eleitor escrevia o nome do candidato
e assinava em baixo. Em 1980, estive em Porto Alegre,
quando houve uma comemoração da Revolução de 30 e vi um exemplar de uma dessas cédulas. Mas as eleições de Borges de
Medeiros foram cansando tanto que, em 1923, terminou havendo uma guerra civil
interna com a intervenção do Governo Federal, havendo a modificação da
Constituição Estadual, que estabeleceu que aquela seria a última reeleição. E
no período seguinte foi escolhido para governar o Rio Grande do Sul o
ex-deputado federal, Ministro da Fazenda de Washington Luís, Getúlio Vargas. Há indícios de que Washington Luís
via com bons olhos a candidatura de Getúlio Vargas para evitar a de Antônio
Carlos. Terminou Getúlio Vargas não saindo como candidato de Washington Luís. Washington Luís era um homem
inteligente, culto, tinha várias obras importantes publicadas, mas era de uma
obstinação política tremenda. Era duro, muito autoritário. Então fez a pior de
todas as indicações: indicou o governador de São Paulo, um paulista sucedendo
ao outro. Recaiu sua escolha no nome de Júlio Prestes, que tinha a fama de ser
homem sem grande QI, segundo o relato de jornalistas da época. Iniciou-se então um movimento
muito sério, a oposição cresceu, Antônio Carlos se articulou e lança Getúlio
Vargas como candidato, em julho de 1929. A eleição seria realizada a 1º de
março de 1930, de forma que a campanha foi deflagrada muito cedo. Essa era, mais ou menos, a
situação política do Brasil. A década de 1920 foi uma década muito conturbada.
No ano de 1922, que foi o centenário da Independência, houve uma série de
eventos. Houve um ciclo de estudos muito interessante que deu lugar a um livro
intitulado À MARGEM DA HISTÓRIA DA REPÚBLICA, com estudos muito aprofundados,
diagnósticos críticos sérios sobre a situação do Brasil. Mas no ano de 22 houve alguns
fatos importantes. Logo no começo do ano houve uma revolução literária e
artística com a Semana de Arte Moderna; logo depois tivemos a fundação do
Partido Comunista do Brasil; em julho
desse mesmo ano houve a primeira das revoltas do chamado movimento tenentista.
Eram oficiais jovens que não estavam aceitando mais aquela situação. Houve a
revolta do Forte de Copacabana, da qual um dos participantes veio a ter uma
demorada influência na política brasileira, o então tenente Eduardo Gomes. Em
julho de 1924, exatamente dois anos depois, o general Isidoro Dias Lopes
revoltou-se em São Paulo, ocupou toda a capital paulista; houve conflito
armado, violento, até que o Exército reocupou São Paulo. Mas uma coluna de
revoltosos comandada por Miguel Costa,
um argentino naturalizado brasileiro, que era o comandante da Polícia
Militar de São Paulo, fugiu e essa coluna mista de elementos da Polícia Militar
de São Paulo e do Exército dirigiu-se ao Sul do país. Lá no Sul houve um
encontro com revoltosos que tinham se revoltado no Rio Grande do Sul,
comandados por um capitão, que também veio a ser um dos nomes fortes da
História do Brasil, Luiz Carlos Prestes. Essa junção transformou-se numa coluna
que percorreu todo o Brasil, chamada Coluna Prestes. Ela era formada pelas
colunas de Prestes e Miguel Costa, mas ficou conhecida como Coluna Prestes.
Passou por grande de parte do país, subiu, foi ao Maranhão, desceu pelo
Nordeste, travou um combate aqui na Paraíba, em Piancó, voltou, passou pela
Bahia, terminou se internando na Bolívia. De modo que, em 1929, havia um
clima especial. Primeiro o cansaço da política oligárquica; segundo, a revolta
de uma parte da oligarquia contra a quebra das regras estabelecidas do
café-com-leite; e, terceiro todo esse movimento militar. Tudo isso veio
descambar em 1930. E a Paraíba como é que estava?
Algumas palestras realizadas neste Ciclo de Debate já nos dão conta. Nós
vivíamos também um ciclo oligárquico. Tivemos a República proclamada aqui, como
já foi frisado em debates anteriores, que não teve quem a recebesse. Foi
nomeado presidente do Estado, que depois tomou o nome de governador, um cidadão
que era juiz de direito de Catolé do Rocha: Venâncio Neiva, indicado
simplesmente porque era irmão de dois oficiais que tinham participado do golpe
militar de 15 de novembro: João e Tude Neiva. E o governo paraibano veio
montado. Para completar o governo de Venâncio, como governador do Estado, veio
Epitácio Pessoa, para ser Secretário Geral, que também tinha um
contraparentesco com Venâncio (a mãe de Epitácio era irmã da esposa de um dos
irmãos de Venâncio Neiva) e o outro foi Coelho Lisboa, que era um propagandista
republicano, o qual em pouco tempo rompeu. Quando Deodoro saiu da
Presidência, forçado a renunciar, houve uma derrubada quase geral nos governos
estaduais O que aconteceu na Paraíba? Vem um oficial do Exército que estava
servindo na Bahia, o qual recebe um telegrama do Presidente da República
dizendo que viesse assumir o governo da Paraíba. Chamava-se Álvaro Machado. E
para dar um cunho de legalidade ele tomou posse perante a Câmara Municipal da
capital do Estado. Instalou um domínio político de vinte anos. Nesses vinte
anos, cinco quatriênios, Álvaro foi presidente do Estado duas vezes, um irmão –
João Machado – exerceu outro quatriênio, um outro irmão – Afonso – foi
Vice-presidente do Estado em outro quatriênio.. Era um domínio familiar
completo. Aí já estava se concretizando um
fenômeno tipicamente republicano na Paraíba. Vez por outra nós tínhamos
movimentos armados de chefes políticos, de proprietários rurais, que se
levantavam com jagunços, com cabras armados. Em 1912 houve um desses, cujo
episódio já foi objeto de debate neste Ciclo. Em 1912 morre Álvaro Machado,
terminando seu domínio. Houve uma tentativa de conciliação, que durou três
anos; em 1915 há o rompimento e se instala o domínio de Epitácio Pessoa. O partido de Epitácio era muito
grande, e como em todo partido grande que está no poder todo mundo quer
participar e começam as cisões. Epitácio tentou contemplar várias alas do
partido e foi fortalecido quando chegou à Presidência da República. Em 1928, Epitácio Pessoa resolveu
indicar um sobrinho para a sucessão paraibana – João Pessoa Cavalcanti de
Albuquerque, um dos possíveis herdeiros políticos de Epitácio. Epitácio Pessoa
não tinha filhos, mas tinha três sobrinhos que eram considerados possíveis herdeiros
dele. João Pessoa fez uma administração
em que realmente modificou uma porção de coisas. Em 1978, quando se comemorou aqui
o centenário de nascimento de João Pessoa, foram feitos debates a respeito e em
1980, quando se comemorou os 50 anos da Revolução de 30, eu participei de
alguns debates e, de fato, o que se levantou mostrou que certas inovações
administrativas de João Pessoa tinham prenunciado aquilo que se instalou depois
de 30. Essa administração de João Pessoa ganhou um renome nacional. Quando foi lançado o nome de
Getúlio Vargas, procurou-se um Vice-presidente para equilibrar a disputa. Com
Minas no Centro e Getúlio no Sul, os oposicionistas procuraram uma pessoa do
Norte. Naquele tempo não havia Nordeste, da Bahia para cima tudo era o Norte. O
primeiro nome em que se fixaram os oposicionistas foi o governador de
Pernambuco, Estácio Coimbra. Estácio sofreu pressão, pois naquele tempo as
pressões governamentais eram muito fortes. Quando levantaram o nome de Estácio
Coimbra o gerente do Banco do Brasil do Recife chamou o presidente da
Associação Comercial e disse que se o Estado de Pernambuco ficasse contra o
Governo Federal o Banco do Brasil ia executar todos os devedores que tinha lá.
Então a Associação Comercial pressiona Estácio Coimbra, que recusa o convite. Assim, é escolhido João Pessoa
como candidato. Naquele tempo nós tínhamos dois
partidos políticos. Como se sabe, àquela época os partidos eram estaduais. Os
partidos mais importantes eram o PRP – Partido Republicano Paulista; PRM –
Partido Republicano Mineiro; e o PRR – Partido Republicano Riograndense. Eram
os partidos mais fortes nos Estados. Na Paraíba tínhamos o Partido
Republicano, comandado por Epitácio Pessoa e o Partido Republicano Conservador,
dirigido pelos adversários de Epitácio, tendo à frente um cidadão que não
exercia cargo político, mas que era um grande chefe político, que era o
desembargador Heráclito Cavalcanti. Em 1928 se funda um outro partido, que
tinha uma nova mensagem, que vinha de São Paulo com uma tentativa de renovação,
chamado Partido Democrático. Quando esse Partido Democrático se fundou aqui na
Paraíba, veio uma comitiva paulista; o partido recebeu o apoio de um dissidente
do grupo de Epitácio, o ex-deputado e ex-senador Octacílio de Albuquerque e de
uma turma nova que era da oposição e que achava que a oposição comandada pelo
desembargador Heráclito Cavalcanti estava cansada. Essa turma nova queria uma
oposição mais efetiva e aqui na capital contava com o apoio de João da Matta
Correia Lima, do médico José Maciel, Luiz de Oliveira e outros mais. Em Campina
Grande, alguns deles se projetaram bastante na política paraibana, como
Argemiro de Figueiredo, Wergniaud Wanderley, Antônio Pereira Diniz e outros. João Pessoa assumiu o governo no
dia 28 de outubro, que era o dia de posse tradicional dos governantes
paraibanos. No dia 31 de dezembro houve eleições municipais. As eleições,
apesar de viciadas, eram rotineiras. Elas eram constantes. Não havia suplentes,
quando um deputado assumia uma Secretaria, tinha que renunciar. De forma que
havia sempre uma vaga para preencher. Nessas eleições municipais esse
Partido Democrático fez dois vereadores na capital. Eram nove vereadores, a
oposição fez dois vereadores. Entre as medidas de caráter
político que João Pessoa tomou resolveu reconhecer os resultados das eleições:
quem ganhar a eleição, leva. É preciso lembrar que na Paraíba
não havia eleição para prefeito, os prefeitos eram todos nomeados. Só havia
eleição para os Conselhos Municipais, que hoje são as Câmaras de Vereadores.
Acontecia, muitas vezes, as Câmaras fraudarem as eleições. Mas, João Pessoa reconheceu a
vitória da oposição. Pelo menos em dois municípios, gente que era da oposição
ficou com ele, como gratidão. Aconteceu em Sousa com o grupo chefiado pelo
advogado José Mariz, pai do ex-governador Antônio Mariz, e em Piancó, o domínio
de uma família que tinha sido escorraçada por Epitácio Pessoa – a família
Leite. Quando se começou a falar na
campanha sucessória presidencial, o que se esperava era que João Pessoa, como
todo governo dos Estados, ficasse com o Presidente da República. E o pessoal da
oposição já estava se preparando para apoiar Getúlio Vargas. De repente João
Pessoa sai Vice de Getúlio. Aí a turma da oposição passa a apoiar Júlio
Prestes, com exceção do Partido Democrático, que se aliou a João Pessoa. Em termos políticos aqui na
Paraíba, tivemos uma mistura. Ao lado de João Pessoa ficou a maioria dos
antigos correligionários de Epitácio, uma parte do partido de oposição,
comandada pelo ex-governador Walfredo Leal, uma parte mais recente e um pessoal
que era um tanto desligado de política e ficou empolgado pelo movimento de
renovação, destacando-se Anthenor Navarro. Na oposição, tivemos gente que era
da oposição tradicional do desembargador Heráclito Cavalcanti e um bocado de
gente que tinha saído do partido de Epitácio e estava com raiva de João Pessoa,
inclusive Dr. Flávio Ribeiro, tio do nosso confrade Marcus Odilon. Naquela época não havia Justiça
Eleitoral. As eleições eram presididas pelo Juiz Federal da capital e em cada
município havia três suplentes de Juiz Federal; no Estado também havia os
suplentes. Em conseqüência, havia toda sorte
de manipulação. Quando o cidadão era eleito deputado federal ou senador, ainda
tinha que passar pela Comissão de Reconhecimento da Câmara de Deputados ou do
Senado. Essa Comissão de Reconhecimento muitas vezes desprezava o resultado e
proclamava eleito o vencido. Era o costume. Há um trabalho do advogado Mário
Bulhões Pedreiras de Carvalho que mostra isso, ao fazer a defesa de alguns
senadores. Na gíria política esse costume era chamado de “degola”. Em 1930 houve as eleições para
Presidente da República, cujo mandato era de quatro anos. Esta coincidiu com a
eleição para Deputado Federal, cujo mandato era de três anos e a eleição para
um terço do Senado, com mandato para nove anos. Assim, de três em três anos,
havia eleições para deputados federais e um senador. Em 30 houve essa
coincidência. Aqui na Paraíba, nós tínhamos mais
ou menos 40 mil eleitores, em números redondos. Pouco mais do que isso. A chapa
presidencial teve cerca de 30 mil votos, para Getúlio-João Pessoa; a chapa de
oposição Júlio Prestes-Vital Soares teve 10 mil votos aproximadamente. O que
fez a Junta Eleitoral? Anulou as eleições para deputados e senador em vários
municípios. Mantém válidas as eleições para Presidente da República e anula as
de deputados e senador, e com isso a chapa da oposição ganha. Quando chegam os resultados de
todo o Brasil ao Congresso, o que aconteceu? Dizem que houve um acordo secreto
entre Washington Luís e o comando da política gaúcha – Borges de Medeiros e
Getúlio Vargas. Todos os deputados do Rio Grande do Sul foram reconhecidos,
mesmo eleitos pela oposição ao Governo Federal. Havia uma dissidência no Rio
Grande do Sul. Havia um senador, Paim Filho, que era de oposição. Em Minas
Gerais também não havia união; a situação estadual era forte, comandada
inclusive pelo Vice-presidente da Republica, Mello Viana. Em Minas Gerais
fizeram uma composição: reconheceram dois terços dos candidatos que tinha
apoiado Getúlio e um terço do outro lado. Nos demais Estados havia gente que
apoiava Getúlio. Por exemplo, em Pernambuco, Agamenon Magalhães, Carlos de Lima
Cavalcanti; em Santa Catarina, Nereu Ramos; no Rio de Janeiro, Maurício de
Lacerda; no Ceará, a família Távora; na Bahia, o jovem estudante Nelson
Carneiro. Só para citar algumas figuras que depois brilharam no cenário
político brasileiro. Mas todo mundo da oposição foi “degolado”, a não ser, como
já frisei, a bancada do Rio Grande do Sul e dois terços da bancada de Minas
Gerais. Com esses acordos a idéia de um
movimento armado desaparece. Até que surge um fato que teve origem pessoal, mas
que teve uma conseqüência política tremenda, que foi a morte de João Pessoa,
assassinado por um desafeto político e depois pessoal, que foi João Dantas. A morte de João Pessoa causou um
impacto violento em todo o Brasil e foi muito bem explorada politicamente. O
corpo de João Pessoa embalsamado foi transferido do Recife para aqui e daqui
saiu num navio, que vai tocando todos os Estados. Em cada um se levantava a
oposição, até chegar ao Rio de Janeiro, onde foi recebido com discursos
inflamados de Maurício de Lacerda, de Pinheiro Chagas, etc. Então, a idéia do movimento
armado, que já estava adormecida, retornou. Siqueira Campos, um dos tenentes
mais destacados, foi a Buenos Aires, onde estava exilado o comandante da Coluna
Prestes, e convidou Prestes para vir comandar o movimento armado aqui. Prestes
se recusou porque a esta altura já estava convertido ao marxismo e achou que
aquele movimento não levaria a nenhuma renovação. Então o comandante do
movimento foi um coronel alagoano que servia no Rio Grande do Sul e que depois
se tornou um nome forte: Pedro Aurélio de Góes Monteiro. Como falei anteriormente, aquelas
rebeliões coronelescas estouraram por
conta de movimentos políticos, como a rebelião de Princesa, comandada
por José Pereira. José Pereira Lima era um coronel, título dado a grandes
proprietários; não era um coronel propriamente dito. Havia os coronéis do tempo
da Guarda Nacional, que fora extinta em 1915. Mas José Pereira era um coronel
de alto destaque. Inês Caminha falou, num dos debates deste ciclo de
estudos, que havia coronéis pequenos,
que dominavam somente nos municípios e coronéis que tinham um domínio regional.
Na Paraíba nós tivemos alguns desses no curso da República. Inicialmente
tivemos Valdevino Lobo, de Catolé do Rocha, que mandava no sertão quase todo.
Depois que Valdevino Lobo morreu, surgiu Felizardo Leite, que, apesar de ser médico,
também era tido como coronel, em Piancó. Quando Felizardo Leite rompeu
politicamente, em 1915, esse domínio no sertão passou para José Pereira. Era o
mais importante dos coronéis de 1930. Ele sustentou uma luta armada em
Princesa, que chegou a um impasse. Ele tentou expandir, mandou colunas armadas,
mas não conseguiu êxito e a Polícia também não conseguia entrar. Por essa razão
e por outras, havia uma presença militar muito grande na Paraíba; companhias e
batalhões do Exército de outros Estados vizinhos foram trazidos para Campina
Grande, Santa Luzia, Patos, Sousa, sendo a capital, praticamente, ocupada pelo
o comando da Região Militar. Um pouco antes havia ocorrido um
fato curioso. O comandante do 22º Batalha de Caçadores, sediado em Cruz das
Armas, era o coronel Estevão d’Avila Lins, nosso confrade e tio do consócio
Guilherme d’Avila Lins; era também irmão do prefeito da capital, José d’Avila
Lins, que foi presidente do Instituto e do médico Antônio d’Avila Lins, sócio
do Instituto, e Diretor do Pronto Socorro. Quando se soube dessas ligações,
transferiram o coronel Estevão d’Avila Lins para o Rio de Janeiro. E foi
trazido para cá o coronel Maurício Cardoso. O coronel Cardoso avisou que traria
com ele gente de sua confiança. Trouxe quatro tenentes que ele supunha serem da
mais absoluta confiança, mas todos quatro estavam comprometidos com o
movimento. Eram os chamados tenentes de Juarez Távora. Juarez tinha sido um dos
dirigentes da Coluna Prestes, estava preso no Rio de Janeiro na Fortaleza de
Santa Cruz, mas tinha uma influência muito grande. Esses quatro tenentes
tiveram projeção na vida política: o próprio Juarez Távora, Agildo Barata,
Juracy Magalhães e Jurandir Mamede. O outro era Paulo Cordeiro. Quando se
pensava que a situação militar daqui era tranqüila estavam aqueles tenentes
organizando o movimento. Houve troca de telegramas cifrados
e a revolução foi marcada para 3 de outubro. Havia uma companhia que sempre
ficava de prontidão. Foi organizado um esquema em que a companhia de prontidão
ficou sob o comando de Juracy Magalhães e o oficial-de-dia era Agildo Barata. O movimento começou à tarde do dia
3 em Belo Horizonte e Porto Alegre. Vieram telegramas urgentes para o comando
do 22º Batalhão de Caçadores (22 B. C.) para que se tomassem todos os cuidados.
Os telegramas eram dirigidos ao general Lavanere Wanderley, comandante da
Região Militar, que se encontrava em João Pessoa. Agildo Barata interceptou
todos os telegramas, não deixou que chegassem ao comando. Quando deu meia
noite, houve a invasão do quartel por civis fardados de oficial do Exército,
fardas fornecidas por esses tenentes aos civis Anthenor Navarro, Basileu Gomes,
Borja Peregrino, Odon Bezerra, Artur Sobreira. Há depoimentos informando que
foram vinte e tantos que invadiram o quartel, mas houve uma reação. Porque
havia outros oficiais que o general havia trazido e quando eles perceberam o
movimento atiraram para cima. Uns quinze invasores correram. Teve gente que
desceu pela ladeira da Graça e foi bater perto do rio, na beira do mangue, mas
houve um grupo menor que Agildo Barata dá o nome de todos os que ficaram e
lutaram. Ao final, terminaram morrendo os tenentes Reis e Sílvio Lobo, e o
general Lavanere e outros ficaram feridos. Tomado o quartel, dirigiram-se para
o Recife, onde já se tinha iniciado o movimento revolucionário. No Recife ainda
houve luta durante algum tempo. Mas nos outros Estados do Nordeste aconteceram
as chamadas deposições por telegrama. O comandante da unidade militar do Rio
Grande do Norte, que era uma companhia, estava toda em Campina Grande e era
comandada pelo tenente Aluízio Moura. O governador do Rio Grande do Norte era
um homem inteligente, culto, escritor, mas era muito violento e garantiu
segurar o movimento, o que não aconteceu, tendo o tenente Aluízio Moura voltado
às pressas para Natal, telegrafando que estava chegando, quando o governador
abandonou o Governo. Isso aconteceu no Ceará, no Piauí. Só houve alguma
resistência no Maranhão e, principalmente, no Pará. No Pará, o governador
Eurico Vale só se entregou no fim, até que fosse deposto Washington Luís. Em suma, esse foi o movimento
militar. Do Rio Grande do Sul, após alguma luta, seguiu uma coluna de trem,
comandada pessoalmente por Getúlio Vargas, dirigindo-se para São Paulo, onde
estava previsto um encontro na cidade de Itararé, que fica na fronteira de
Santa Catarina com São Paulo. Previa-se que seria a maior batalha da América do
Sul. Depois se diz que a maior batalha da América do Sul não houve, porque,
antes disso, em 24 de outubro, alguns líderes militares, entre eles os generais
Tasso Fragoso e Mena Barreto e o almirante Noronha estiveram com Washington
Luís para dizer que a situação estava insustentável (faltavam 20 dias para
Washington Luís deixar o Governo), aconselhando sua renúncia. Ele se recusou,
houve um impasse, tendo o cardeal D. Sebastião Leme, afinal, convencido
Washington Luís a renunciar. Quando Getúlio Vargas chegou ao
Rio de Janeiro os militares não estavam querendo entregar o Governo. Tentaram
fazer uma manobra para ficar, até que Getúlio Vargas assumiu o Governo
Provisório no dia 4 de novembro. Assim terminou a chamada República Velha. Isso foi a Revolução de 30. E o
que essa revolução fez? Primeiro, a Revolução procurou
moralizar as eleições, implantando a Justiça Eleitoral, e estabeleceu o voto
secreto obrigatório em todo o Brasil. Atribui-se a Washington Luis uma
frase: “A questão social é caso de polícia”. Quer dizer, o problema do
trabalhador era meter o pau. Eu vi algum tempo uma proclamação
da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, na qual dizia que
as férias para os operários eram extremamente prejudiciais. Porque o operário
de férias não tinha o que fazer, em lugar de ir para o trabalho direitinho ele
ia passar dez ou quinze dias em casa sem ter o que fazer, ia beber, tomar
cachaça, jogar, ia fazer o que não prestava. De modo que era mais salutar para
a moralidade do operário não ter férias, nem salário mínimo, jornada mínima de
trabalho, etc. A previdência, cuja tentativa do deputado Eloy Chaves, não lograva
êxito, também não era necessária. Isso tudo foi implantado pelo
movimento de 30. Houve várias modificações administrativas. Foram criados o
Ministério da Educação, o Ministério do Trabalho e várias outras coisas. 30
marcou não só os rompimentos em termos políticos como houve uma renovação
administrativa muito grande. Quem dominou o Brasil? Os gaúchos,
inicialmente. Vieram a cavalo e cometeram a bravata de amarrarem seus cavalos
no obelisco que havia no começo da avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro. O Ministério
Vargas era dominado por gaúchos. Eram Oswaldo Aranha, João Neves da Fontoura,
Maurício Cardoso, Lindolfo Collor, Batista Luzardo e outros mais. Mas a Paraíba conseguiu projeção.
O jornal A UNIÃO tem um documentário precioso sobre essa fase da Paraíba.
Quando João Pessoa foi assassinado, quem assumiu a presidência do Estado foi
seu Vice-presidente, Em termos de política paraibana, a
reviravolta foi enorme. Nenhum dos partidos estaduais sobreviveu. O Partido
Republicano da Paraíba – partido de
Epitácio – simplesmente se acabou. Não foi dissolvido, oficialmente, mas
desapareceu, não se encontrando qualquer manifestação dele. O Partido
Republicano Conservador emitiu uma ou duas notas, e só. Quando das eleições
para deputado constituinte, em 1933, o Partido Democrático apresentou apenas um
candidato, o advogado Severino Alves Ayres, o qual teve uma votação irrisória.
Nos outros Estados, os Partidos Republicanos sobreviveram. Fiz um levantamento dos
personagens, dos atores políticos que atuaram até antes de 1928, exercendo
cargos eletivos como senadores, deputados federais e estaduais, ou que exerceram cargos políticos de
nomeação como secretários de Estado, prefeitos municipais, e verifiquei que não
chegam a 20 os nomes daqueles que tiveram militância política depois de 30. De Epitácio Pessoa, apontado como
uma grande figura, nem foi tomado conhecimento. José Américo conta no
depoimento que deu à Fundação Getúlio Vargas, que está transformado em livro,
que foi receber Epitácio Pessoa no porto do Recife, quando este estava voltando
da Europa, e foi recriminado pelos tenentes de 30. Em 1934 houve eleição para
senador, que era eleito pela Assembléia, e a oposição levantou dois nomes de
vulto: Epitácio Pessoa e Castro Pinto. A situação não tomou conhecimento. Como
se vê, houve uma grande modificação. Temos de reconhecer que a presença
paraibana, apesar de se concretizar em José Américo, foi grande. No começo da
década de 70 a Fundação Getúlio Vargas criou o Centro de Pesquisas e
Documentação da História do Brasil – o CPDOC, que tem uma produção
interessante. O CPDOC foi criado a partir do arquivo de Getúlio Vargas, que
estava em poder da neta dele, Celina Vargas do Amaral Peixoto, uma mulher
inteligente e culta. Ela verificou que para começar a história de 30 para cá
tinha que começar desde 1922. Então o CPDOC cobriu de 22 para cá. Foi criado um
Núcleo de História Oral, onde se gravavam depoimentos de pessoas que tiveram
atuação. Às vezes, quando essas pessoas não estavam vivas, colhia-se
depoimentos de filhos. Por exemplo, de Lindolfo Collor, que já tinha morrido,
foram colhidos depoimentos das filhas dele; do general Euclides Figueiredo, que
já tinha morrido, quem prestou depoimento foi o filho mais velho, Guilherme,
que nesse tempo estava brigado com o irmão João (que depois foi Presidente da
República). Eu li o depoimento de Guilherme Figueiredo; ele deu um depoimento
de tal forma que não fala no nome de João. Em 1978, por articulação feita
pelo nosso consócio Oswaldo Trigueiro do Valle, a Fundação Getúlio Vargas fez
um convênio com a Universidade Federal da Paraíba, nesse tempo dirigida por
Linaldo Cavalcanti, para implantar um setor de História Oral aqui. Nós colheríamos
entrevistas dos paraibanos daqui e as mandava para o CPDOC e o CPDOC nos
mandava os depoimentos que os paraibanos tivessem dado lá. Eu fui trabalhar
nesse setor e, em 1979, fiz um estágio na Fundação Getúlio Vargas. Passei lá
mais de um mês, e quando estava lá chegaram uns estudantes, que foram recebidos
pela encarregada do setor, que era Aspásia Camargo. Fizeram muitas perguntas e
constatei que lá já existiam 27 entrevistas com paraibanos. Então uma estudante
perguntou: por que essa preferência pela Paraíba? Aspásia disse: você não pode
desconhecer a participação que a Paraíba teve em 30. De modo que a Paraíba teve
esse papel relevante. Certa vez, em carta que fiz ao
jornalista Gonzaga Rodrigues, registrei que em 1654 os holandeses foram
expulsos do Brasil, num movimento cujo principal comandante foi André Vidal de
Negreiros. A Paraíba era uma Capitania destacada, tanto que quando Maurício de
Nassau teve que voltar para Holanda, em vez de embarcar no Recife veio se
despedir da Paraíba e embarcou no navio em Cabedelo. Nos últimos dez anos, a
partir de 1644, o domínio holandês ficou circunscrito ao Forte de Cabedelo. A
capital Frederica estava ocupada pelos rebeldes, eram os paraibanos. Mas isso é
conhecido como a Restauração Pernambucana. Em 1817 – José Octávio falou nisso
na última sessão do Ciclo de Debates – naquela revolta nativista em que a
Paraíba teve um papel destacado, a Paraíba em termos ideológicos esteve muito
mais avançada. O livro de Irineu Pinto transcreve cartas trazidas do movimento
de Pernambuco reclamando que o pessoal da Paraíba estava querendo muita coisa
em termos de progresso; mas isso tudo é somente a Revolução Pernambucana. A
Paraíba tem destaque na história nacional, mas oficialmente fica atrás. Em 1930, não. Em 30 a Paraíba teve
comando. Daqui partiram as decisões para cobrir o Norte e Nordeste. As colunas
saíram daqui para combater os centros de resistência, que era maior na Bahia.
Nosso saudoso confrade Octacílio de Queiroz já havia dito: “tire-se 1930 e a
Paraíba fica sem nada”. A Revolução de 30, que teve esse
significado marcante na História do Brasil, teve um significado muito maior em
termos da Paraíba. · · · A fala do Presidente: Pelos aplausos concedidos ao final
da exposição do historiador Humberto Mello, podemos aquilatar o valor de sua
palestra, trazendo-nos um quadro completo da Revolução de 30 na Paraíba, desde
os primeiros passos daquele movimento que derrubou a República Velha. Em seguida vamos ouvir nosso
consócio Dorgival Terceiro Neto, atual Vice-presidente deste Instituto. A
carreira ascensional de Dorgival Terceiro Neto mostra seu valor: Jornalista
primoroso; professor qualificado da Universidade Federal da Paraíba, onde
também exerceu importantes funções administrativas; em sua carreira funcional
exerceu os cargos de Secretário do Tribunal de Justiça, Procurador do
Estado prefeito da capital;
Vice-Governador e Governador do Estado. Em conversa, o cargo que ele dá mais
importância é ter sido Redator do jornal A UNIÃO. Sempre dedicado às letras e à
história, Dorgival além de pertencer ao nosso Instituto é membro da Academia
Paraibana de Letras. Historiador nato, conferencista de primeira água, narrador
de estilo agradável, tem vários trabalhos publicados, entre eles GENTE DE
ONTEM, HISTÓRIA DE SEMPRE e PARAÍBA DE ONTEM, EVOCAÇÕES DE HOJE. Está aí o perfil do nosso
debatedor, a quem passo a palavra. Debatedor: Dorgival Terceiro Neto (Atual Vice-presidente do Instituto, membro da Academia
Paraibana de Letras, jornalista, ex-professor da UFPB, ex-prefeito de João
Pessoa e ex-governador do Estado) O expositor Humberto de Mello praticamente esgotou
a matéria. Ele é muito proficiente, tem uma memória fantástica, além de ser um
estudioso e pesquisador sério e só relata aquilo que ninguém tem condições de
fazer contradita. Ele se vale do privilégio que tem de muita cultura e memória
muito boa. Praticamente esgotou a matéria sobre 1930. É como ele diz, citando
Octacílio de Queiroz: “a Paraíba é 30 e o resto é o resto.” Mas ele falou no início na Coluna
Prestes e há sempre uma indagação, principalmente da juventude. A mim mesmo tenho perguntado muitas vezes: Qual era
o objetivo da Coluna Prestes? Que diabo a Coluna Prestes queria, nessa
vilegiatura que andou pelo país todo e terminou nas encostas da Bolívia? Estou
aqui mais como indagador, e talvez essa indagação seja de todo o auditório:
saber quais os objetivos da Coluna Prestes. Era uma multidão, chegou à Paraíba
com cerca de 3 mil caminhantes provavelmente; passaram em Piancó e fizeram
aquele destroço. Dizem que tinha ainda muita gente em Curema enquanto vinha
gente chegando em Piancó. Que é que essa gente fazia, Humberto, no seu
entender? Não é nem debate, é uma indagação. Humberto Mello: Quando a Coluna Prestes se iniciou
quem estava no Governo era Arthur Bernardes, que era um homem de temperamento
complicado, extremamente autoritário. Basta dizer que Bernardes tirou todo o
seu período governamental, do primeiro ao último dia, em estado de sítio. Então
essa Coluna procurava fazer um levantamento pelo Brasil e havia uns tenentes
que procuravam ecoar. Aqui na capital do Estado, por exemplo, dois tenentes –
Aristóteles de Souza Dantas e Lourival Seroa da Mota – atuaram quando a Coluna
Prestes desceu do Ceará, passou pelo Rio Grande do Norte e entrou na Paraíba. O
objetivo era sacudir o povo, ainda indiferente à situação do país. Os dirigentes da Coluna Prestes,
Luís Carlos Prestes à frente depois que Miguel Costa deixou,. Juarez Távora,
Cordeiro de Farias, João Alberto, cada uma tomou um rumo ideológico diferente.
Juarez e Prestes chegaram a trocar cartas em 30 e romperam. Cordeiro de Farias
até o fim sempre manteve o maior respeito a Prestes, chamando-o meu comandante.
Aqueles líderes da Coluna Prestes tornaram-se figuras destacadas do país.
Cordeiro de Farias foi quase tudo no Brasil, só não foi Presidente, que era o
sonho dele; Juarez foi candidato a Presidente da República; João Alberto era um
dos homens de confiança de Getúlio, exerceu funções no executivo e no
legislativo e foi interventor de São Paulo, e, diga-se de passagem, um dos
homens mais caluniados do Brasil. Joacil Pereira, em aparte: Foi tido como ladrão, sem ser. Humberto Mello: Morreu na miséria. João Alberto
foi vereador no então Distrito Federal e se a Câmara não pagasse o enterro, a
família não tinha dinheiro para pagar. Felinto Muller, segundo depoimentos, foi
expulso da Coluna. O que a Coluna queria? O objetivo
era dar uma sacudidela na consciência nacional e isso foi obtido a médio prazo. Dorgival Terceiro
Neto: Na realidade eles percorreram o
meio rural, e naquela época o grosso da população era rural. Só que era uma
população analfabeta, impermeável a uma mensagem nova. Isso também digo a essa
juventude que faz essas indagações. No meu entender da Revolução de
30, acho que havia muito personalismo, emulação política. No caso do Rio Grande
do Sul, que você destacou, eles nunca
tiveram um Presidente da República e queriam ter de qualquer jeito. Deu
Getúlio, que foi o maior anticonstitucionalista que conheci. Em 1930 existiu
muito personalismo. Não sei se o expositor também participa desse entendimento.
O Rio Grande do Sul montou um artifício, aproveitando-se de um momento propício
para poder conquistar a Presidência da República. E chegou a isso com uma
dosagem grande de personalismo, de vontade própria ou de ambição mesmo do
próprio Getúlio. Humberto Mello: Não há a menor dúvida. Getúlio era
um homem que nunca houve, na História do Brasil, com tanta vontade de poder
quanto ele. E a propaganda política da Aliança Liberal, que foi a coligação que
se formou para apoiar Getúlio e João Pessoa, era que iria restaurar a pureza
dos ideais da Constituição de 1891. Quando Getúlio assumiu o Governo baixou um
Decreto em que suspende a Constituição de 1891 e depois não tomou mais
conhecimento dela. Foi a primeira que ele rasgou. Esse Decreto de Getúlio é
interessantíssimo porque tem muita coisa que vem a ser reproduzida, 34 anos
depois, no Ato Institucional nº 1. Há dispositivos que são reproduzidos quase
literalmente. Ele teve apoios para isso. A Paraíba apoiou inicialmente, com
Anthenor Navarro. Há dois episódios, nesse
particular, que queria contar nesse. Um deles é o seguinte: quando se verificou
que Getúlio estava tomando conta do poder, em 1932, não se falava em eleição,
não se falava em constituinte; diz ele: vamos observar a Constituição, depois
vamos elaborar outra, e o depois não vinha. Borges de Medeiros, que então
estava rompido com Getúlio, telegrafou para vários líderes, inclusive Anthenor
Navarro, que era interventor da Paraíba, apelando para os ideais da Aliança
Liberal. E Anthenor Navarro deu uma resposta malcriada, dizendo que a Aliança
Liberal estava defunta desde junho de 1930. O junho foi a época da “degola” dos
eleitos. Outro episódio do apoio da Paraíba
a essa atitude ditatorial, em 1931, quando Getúlio tinha convocado as eleições
para a Constituinte: o Instituto dos Advogados do Brasil dirigiu a todos os
Institutos dos Advogados dos Estados pedindo apoio para o movimento de
reconstitucionalização do país. E todos apoiaram, menos um: o Instituto dos
Advogados da Paraíba. Disse que estava muito satisfeito do jeito que estava. Getúlio, como chefe do governo
provisório, forçado, convoca a Constituinte. A Constituinte vota a Constituição
de 34 e contam que, quando foram
comunicar-lhe, ele teria dito que seria o primeiro a descumpri-la. Efetivamente
essa Constituição durou três anos, pois em 1937 ele deu o golpe de Estado. Aí
vem a Constituição elaborada por um cidadão que, sem dúvida alguma, foi um dos
maiores juristas do Brasil – Francisco Campos, chamado Chico Ciência. Essa
Constituição, formalmente, é um espetáculo; ela é muito bem feita. Mas Getúlio,
que promulgou a Constituição, também não a cumpriu. Não há a menor dúvida que
Getúlio se aproveitou da situação para dominar. Em termos de personalismo ele
foi insuperável. Dorgival Terceiro
Neto: Outro aspecto que é objeto de
indagações refere-se às influências externas sobre o movimento de 30. Naquela
época existia até uns relatórios famosos sobre nossas dívidas imensas em libras
esterlinas; era a época do apogeu do café, da borracha, tudo isso explorado por
esses gringos. Então teve um relatório famoso antes de detonar a Revolução de
30, em que eles apontavam todas as dificuldades econômicas que o país estava
atravessando. Os americanos, que policiavam tudo isso, também tinham uns
relatórios que chegaram a ser divulgados. Cheguei até a ler alguns deles,
quando me interessava por essa parte de economia. Muita gente diz que isso não
foi objeto apenas dos brasileiros. A Revolução de 30 foi, na verdade,
acompanhada, como foi a de 64, de perto pelos grupos estrangeiros, pelos grupos
econômicos, pelos grandes bancos, que tinham capitais mutuados circulando no
país e que tinham interesse na recuperação desses capitais. Acho que esse lado econômico tem
sempre que ser levado em consideração quando se tratam dos pressupostos para a
detonação de 30. Os historiadores levam em conta
somente os fatos históricos, mas eu acho que essa parte econômica deve ser
sempre objeto de avaliação. Esses relatórios existiram. Eu me lembro que, no
passado, li um deles, inclusive de um economista importante da Inglaterra, em
que dizia tudo o que estava acontecendo no Brasil e providências que deveriam
ser tomadas para evitar que eles perdessem o controle nacional, que era exercida
por eles. Eles emprestaram muito dinheiro aqui e queriam salvar esse dinheiro
de qualquer forma. Esse receio existia, e da parte dos americanos também
existia. Creio que isso foi também levado em consideração na época da
preparação da revolução. Não se de forma muito ostensiva, mas talvez sorrateira
pelos grupos econômicos que já atuavam aqui, como hoje se encontram no país.
Não sei se o expositor tem alguma coisa a acrescentar sobre isso. Humberto Mello: Na década de 30, Gustavo Barroso,
um historiador de extrema direita, publicou um livro chamado BRASIL, COLÔNIA DE
BANQUEIROS, em que mostra a série de empréstimos do Brasil. Isso não é
novidade. O Brasil tomava dinheiro emprestado com spread e juros altos. Como não podia pagar, tomava outro empréstimo
para pagar os juros anteriores. O Brasil era um país eminentemente agrícola, e
havia muita gente que achava que o Brasil não devia proceder a nenhuma
industrialização. Que a vocação do Brasil era a agricultura e a exportação de
matéria prima. O Brasil depois que descobriu minérios, exportava minérios,
café, cacau. Havia o domínio da Inglaterra, que mandava no mundo econômico até
a primeira guerra mundial. O Brasil importava tudo, até a manteiga era
importada. Importava agulha, linha, sapato, tecidos, etc. Quando vem a guerra
de 1914-18, de repente começam a faltar as coisas no Brasil. Começam surgir as
indústrias substitutivas das importações. Indústria incipiente que tinha de
substituir o importado, que não vinha mais. Apesar da Inglaterra sair vitoriosa
da guerra de 18, saiu enfraquecida, começando então o domínio norte-americano.
E começamos a sair da área da libra esterlina para a do dólar. Mas o
capitalismo norte-americano também não estava em boa situação. Em 1929 houve o
famoso crack da Bolsa de Nova York,
que acabou com a economia americana, e
embora ainda não houvesse esse nome de globalização, a economia
americana arrastou a economia mundial. Em conseqüência caiu o preço do café no
mercado internacional, que era o nosso principal produto de exportação. E caiu
a tal ponto que o governo brasileiro chegou a queimar sacas de café que estavam
no porto para exportar, visando diminuir a oferta, para tentar segurar o preço.
Não foi mera coincidência a derrubada do governo argentino em 1930, que estava
na mesma situação do Brasil, quando a
carne, seu produto principal de exportação, caiu de preço. Houve o problema econômico interno
e externo, e é claro que tudo isso
influiu na queda da República Velha Há estudos nesse sentido, mostrando
que o que enfraqueceu São Paulo, o que enfraqueceu a candidatura de Júlio
Prestes e o próprio presidente Washington Luiz foi o enfraquecimento econômico
do café. Dorgival Terceiro
Neto: Ninguém pode deixar de reconhecer
que depois da Revolução de 30 o país experimentou algum progresso A
industrialização já surgiu praticamente naquele período. Uma coisa que grassou
largamente foi o empreguismo. Getúlio fez umas coisas benéficas: criação da
legislação trabalhista, que não existia, mas criou Instituto só para dar
emprego ao povo. Instituto de toda qualidade. Institutos dos Bancários, dos
Comerciários, dos Ferroviários, instituto não sei de quê, que terminou num
cabide de emprego terrível. Humberto Mello: Esses foram Institutos
previdenciários, mas teve os institutos econômicos: Instituto do Café,
Instituto do Sal, Instituto da Borracha, Instituto do Açúcar e do Álcool, etc. Dorgival Terceiro
Neto: O que se diz é que ele para se
perpetuar politicamente criou todo esse esquema de empreguismo para prestigiar
líderes políticos e gente do interior do país. Não tenho grande admiração por
Getúlio. Acho-o um sujeito terrível, frio, calculado, tudo que fazia era
visando seu sucesso pessoal, para se perpetuar no poder, como se perpetuou
durante 15 anos. Podemos atribuir a ele algum avanço no campo econômico, pois
reagiu a essa subordinação ao exterior, mas foi um grande empreguista. Essas
coisas todas têm que ser analisadas como resultado da Revolução de 30. As
positivas e as negativas. Muita coisa no campo social aconteceu, e também muita
coisa negativa. Muitos vícios, os quais ainda hoje participamos deles. Humberto Mello: As reformas administrativas de
Getúlio começaram com a criação de dois ministérios, logo quando ele assumiu: o
Ministério do Trabalho e o Ministério da Educação e Saúde, que depois foram
separados. Depois criou as autarquias; não havia autarquias no Brasil. A
figura jurídica da autarquia foi criada por ele. Conforme Luiz Hugo disse aqui
ao meu lado, à meia voz, Getúlio criou a classe média no Brasil. A classe média
foi criada às custas do poder público. E isso tinha objetivo político. Mas, Getúlio exercia um certo
fascínio. João Neves da Fontoura era Vice-presidente de Getúlio Vargas no Rio
Grande do Sul. Acontece que quando Getúlio saiu para comandar o movimento
militar não passou o governo para João Neves. Passou para Oswaldo Aranha. João
Neves foi logo ficando meio despeitado e em 1932 está João Neves envolvido com
o movimento paulista e escreveu um livro “Acuso”, metendo o pau em Getúlio. Foi
exilado para Portugal. Em 1939, João Neves começou a fazer umas sondagens para
voltar ao Brasil. Aí se tornou possível sua volta. Por intermediação de amigos,
João Neves foi convidado a ir ao Palácio do Catete. E aí contam a exclamação de
Getúlio: Oh, João! Onde é que tu andavas, nunca mais aparecestes? Estou aqui à
tua disposição. Veja o maquiavelismo de Getúlio.
Lembremos o que aconteceu com Oswaldo Aranha. Oswaldo havia sido embaixador do
Brasil nos Estados Unidos, volta para ser Ministro das Relações Exteriores e
preside a Sociedade dos Amigos da América, que tinha posição formada em favor
dos aliados da II Guerra e era contra as ditaduras inimigas (Alemanha e Itália)
e que evidentemente repercutia contra a ditadura doméstica. Getúlio estimula
Oswaldo Aranha a ser o presidente da Sociedade dos Amigos da América e quando
Oswaldo Aranha é eleito ele manda fechar a sociedade. Oswaldo Aranha fica na
oposição. Mas, quando Getúlio é eleito, em 1953 chama Oswaldo Aranha para
Ministro, inclusive chamou José Américo. Recordo-me de uma publicação na
revista O CRUZEIRO, com a fotografia dos dois com a seguinte legenda: A
Revolução de 30 volta com cabelos brancos. Lembro-me também de outra
fotografia, na morte de Getúlio, Oswaldo Aranha chorando. Ficou sendo getulista
até o fim da vida. Getúlio realmente fascinava essa
gente. Mas tinha essa distribuição de benesses, de empregos, de favores. Muita
gente ficou rica. Dorgival Terceiro
Neto: Vou encerrar, que o horário está
avançado. Mas, Joacil Pereira lembrou que o ministro João Alberto morreu muito
pobre e tinha a pecha de ladrão. A propósito disso, aqui na Paraíba tinha umas
figuras inteligentíssimas, como o violeiro Pinto do Monteiro, que morava no Rio
de Janeiro. Ele e Louro do Pageú tinham uns programas na Rádio Tamoio em que o ouvinte,
pelo telefone, dava um mote e eles glosavam. Com isso criaram fama. Quando
havia aquelas festas grandes eles eram convidados como grande atração. Uma vez
fizeram uma festa na casa do ministro João Alberto e levaram os dois
cantadores. João Alberto, que era pernambucano, tinha passado em Monteiro na
Coluna Prestes. Como se sabe, os membros da Coluna tomavam os animais nas
cidades por onde passavam. Não tomavam propriamente, eles “requisitavam” os
animais, e não traziam mais. Quando João Alberto passou em Monteiro carregou
uns burros de carga do cunhado de Pinto. Quando ele chegou na casa do ministro,
João Alberto disse: Ah, Pinto, eu conheço muito você; conheço sua fama, também.
Quando Pinto começou a cantoria, começou assim: Me desculpe seu ministro, Me perdõe se eu estou errado, Eu vim aqui para perguntar, Não para ser perguntado. Me diga o que é que fez Dos burros do meu cunhado Joacil de Britto
Pereira: Serei breve, devido ao adiantado
da hora. Quero de início me congratular com o expositor de hoje. Ele fez uma
exposição isenta, como convém ao verdadeiro historiador, sem as paixões
exacerbadas que alimentam o espírito de muitos outros. Só tenho que louvar a
maneira como ele se conduziu. Não tenho nada a recriminar. Mas anotei uns
pontos porque é natural que haja certas omissões.O tempo é curto e o expositor
tem as suas limitações temporais e daí não pode abordar tudo. A oligarquia alvarista encontrou
duas reações: a primeira foi a de Coelho Lisboa, que veio para ser Chefe de
Polícia do primeiro governo republicano, mas começou a reagir contra Venâncio e
continuou a sua reação depois, no segundo governo republicano. Era um bravo
parlamentar, um orador extraordinário e rompeu primeiramente com o governo a
que servia e continuou lutando contra Álvaro Machado. Depois, ele também rompeu
com Epitácio porque achava que Epitácio estava dentro da mesma linha
oligárquica e ele achava que a República havia sido feita para regenerar os
costumes políticos e instaurar uma verdadeira democracia no Brasil. Era realmente
um idealista. Então, nós vemos que a Paraíba,
desde a Proclamação da República até o governo de João Pessoa, viveu sob uma
oligarquia. E João Pessoa, que veio para redimir esses costumes políticos,
esses vícios da Velha República – e fez muita coisa nesse sentido – também não
escapou da proteção indecorosa à sua família. A família Pessoa também foi
oligárquica. Por ocasião das eleições
esperava-se que João Pessoa renovasse a chapa para deputados federais, mas não
renovou totalmente. Manteve o seu parente na chapa. Quando João Pessoa visitou
Princesa ainda se discutia sobre a possibilidade de botar João Suassuna na
chapa. José Pereira já estava meio estremecido porque quando João Pessoa, em
Palácio, anunciou algumas providências ao líder José Pereira e falou nos
cangaceiros que ele protegia, a resposta de José Pereira foi veemente: esses
cangaceiros a quem Vossa Excelência se refere ajudaram a eleger seu tio
Epitácio Pessoa a Presidente da República. É de se ver que também houve esse
vício de oligarquia no governo de João Pessoa e antes, na liderança de
Epitácio. Dorgival Terceiro
Neto, em aparte: Para mostrar que Epitácio foi mais
longe, quando chegou a vez para disputar a Presidência do Estado, e não tinha
nenhum Pessoa desocupado, ele botou Camilo de Holanda, que era o médico da
família. Joacil Pereira, continuando: Então houve esse protecionismo.
Por exemplo, o candidato de João Suassuna ao governo do Estado não seria João
Pessoa, mas Epitácio impôs a retirada do nome da predileção do Presidente, que
era Júlio Lira. O nome de Júlio Lira foi retirado para entrar o de João Pessoa.
Esses são assuntos que estão dentro do tema da Revolução de 30 e da República. Cumpre-me dizer ainda que Álvaro
Machado estava deixando de ser Presidente do Estado colocava sempre Walfredo
Leal ou uma pessoa de sua total confiança (Walfredo era também seu parente, que
também era de Areia). Além do mais, ele fazia isso de sair da Presidência do
Estado, porque ele preferia sempre estar nos altos conselhos da República. Ele preferia
o Senado; ele saía, não para hibernar, ele saía para se eleger Senador e depois
voltar. Dorgival Terceiro
Neto, em aparte: Em uma das vezes em que não havia
um Machado desocupado, Álvaro colocou o desembargador José Peregrino e Afonso
Machado como Vice, para ter gente dele sempre de cima. Joacil Pereira, retomando a palavra: Essas oligarquias não davam chance
a ninguém. Era uma panelinha familiar, oligárquica. Determinadas famílias da
Paraíba sempre viveram assim, como agora outra quis se implantar, como os Cunha
Lima. Não tenho nada contra eles, mas é um fato histórico. O governo de João Pessoa teve
altos e baixos. Ele foi endeusado porque infelizmente, lamentavelmente, foi
assassinado. Havia um parente de João Dantas, seu primo, que dizia: por que meu
primo fez isso? Por causa de ofensas pessoais a ele e à família? Porque vão
endeusar esse homem. Se ele queria mandar matar, por que não me mandou, que não
sou um homem de projeção? Mas, João Dantas, levado pelos
impulsos das suas emoções e dos seus sentimentos feridos, assassinou João
Pessoa e João Pessoa se tornou, de repente, um ídolo, por uma exploração
terrível. Esse navio em que viajei muito depois, o navio “Rodrigues Alves”, que
levou o cadáver de João Pessoa daqui até o Rio, parando em todo porto, era um
palanque político da Revolução, que já tinha fracassado. Getúlio já não queria
mais a Revolução, estava, inclusive, acomodado. Quem fez a Revolução foi o
maior homem que o Rio Grande do Sul deu à Revolução, que se chamou Oswaldo
Aranha. Ele quase que jogou à força Getúlio à frente do movimento. Quanto a Getúlio foi dito, também,
o que ele fez. O seu espírito ditatorial, sua desmedida ambição de poder, homem
cerebrino e frio, que mandou entregar, por Felinto Muller, a esposa de Luis
Carlos Prestes. Esse foi um grande idealista no país; podemos divergir das
idéias que ele desposou, mas não podemos deixar de reconhecer que Luis Carlos
Prestes foi um homem culto, sério e idealista. Nunca deixou os seus amigos no
caminho. Pois bem, Getúlio entregou a esposa desse homem, grávida, entregou um
feto que estava no ventre dessa mulher ao nazismo e ela deu a luz a Anita
Leocádia Prestes num campo de concentração. Não posso deixar de referir isso
sobre esse ditador cruel, cerebrino, frio e iníquo. Pessoalmente honesto, nunca
furtou, mas deixava os outros furtarem. Oswaldo Trigueiro de Albuquerque
Mello, ex-governador do Estado, contou um fato autêntico. Ele era governador,
quando estava no Rio de Janeiro e um grande político do Pará, massacrado por
Magalhães Barata, foi se queixar a Getúlio do que esse homem fazia lá. Que
estaria dilapidando os cofres públicos, se locupletando. Getúlio ouviu,
pacientemente, a exposição de mais meia hora, fumando um charuto e soltando
fumaça no ar. E no final, disse: O do Maranhão é muito pior (que era Vitorino
Freire). Esse era o Getúlio Vargas, que tinha apenas a ambição desmedida de
poder, o espírito caudilhesco. Nós não podemos, nesta hora, deixar passar sem
essas observações. Na verdade, há algumas coisas
engraçadas na Revolução de 30. Pernambuco tinha como Presidente Estácio
Coimbra, uma figura de punhos de renda, de família tradicional, rico, mas
acovardou-se, abandonando os seus amigos e fugiu num rebocador, no qual já
estava Juvenal Lamartine, fugido do Rio Grande do Norte, um vestido de padre
(que era Juvenal) e o outro vestido de freira. Juvenal era metido a cavalo do
cão, a conquistador e quando viu aquela freira tão bonita aproximou-se com
galanteios, e aí Estácio disse: deixe de besteira, Juvenal, eu sou Estácio. Todos
dois fugiram, abandonando o campo da luta. Na Paraíba, houve realmente luta
séria. Os paraibanos realmente se portaram muito bem. Mas é preciso corrigir um
ponto. A Paraíba não é só a Revolução de 30. A Paraíba é a expulsão do holandês
invasor, que Pernambuco procura puxar para o seu bornal. A Paraíba é a
Revolução irredenta e libertária de 1817, que deu maior número de mártires do
que Pernambuco Eu estava na Câmara dos Deputados
quando o escritor Vamireh Chacon, meu amigo, que descende de família paraibana
de Areia, estava fazendo uma conferência sobre esse assunto e o aparteei com
veemência: Guerra pernambucana, por que? Restauração pernambucana, por que?
Participaram desse movimento, em 1817, por exemplo, a Paraíba, o Rio Grande do
Norte, até o Ceará. Só enaltecem Pernambuco. Eu
entendi, muito bem, o que quis dizer nosso debatedor. Mas acho que devemos,
toda vez em que se falar puxando a brasa para a sardinha de Pernambuco, dizer
que a revolução de 1817 foi nordestina. São esses os adendos que gostaria
de fazer, como faço, parabenizando, mais uma vez, o Instituto e o expositor
Humberto Mello e seu debatedor, pelo brilho desta reunião. Ele fez, como disse
de início, uma exposição isenta, como deve ser a de qualquer historiador que se
prese de não abusar das suas paixões exacerbadas. Já é tempo da Paraíba
refletir melhor sobre esses ódios que separaram a Paraíba, dividiram-na em dois
campos de luta. Dividiram a família paraibana. Nós temos que dar o seu ao seu
dono, o valor que cada um tem, mas não com paixão e com ódio. Guilherme d’Avila
Lins: Hoje é uma tarde muito feliz. Hoje
assistimos aqui uma belíssima lição de História, protagonizada de forma
magistral por Humberto Mello, Dorgival Terceiro Neto e Joacil Pereira, que
abordaram importantes aspectos da Revolução de 30, dando uma significativa
contribuição a este Ciclo de Debates. Pegando o gancho das palavras de
Joacil, de que é hora de se acabar com as paixões, bem a propósito tenho aqui
um artigo que achei a alguns dias na Revista ERA NOVA, de 1925, durante o
Governo de João Suassuna com o retrato de José Pereira Lima. O artigo diz
respeito à atuação de José Pereira Lima no combate aos cangaceiros que
assolavam o sertão na época. O mesmo José Pereira Lima que foi chamado de
cangaceiro depois, no governo seguinte. Dorgival Terceiro
Neto, em aparte: José Pereira Lima foi quem enxotou
Lampião, quando assaltou Sousa. Guilherme d’Avila
Lins, retomando a
palavra: Quis registrar o fato, porque,
passado o tempo, é hora de sentarem as coisas. A questão mais factual da
revolução de 30, que é a participação dos elementos que aqui conspiraram e
atuaram, deverá ser adicionada a este debate. Não vejo esse registro em todas
as vezes que se fala na Revolução de 30. Acho que se foram citados esses
registros, foram esquecidos. Assim é que vou citar alguns artigos que o então
interventor e conspirador da Revolução de 30, Anthenor Navarro, escreveu na A
UNIÃO a partir de maio de 1931, sob o título genérico de APONTAMENTOS PARA A
HISTÓRIA DA REVOLUÇÃO DE 30. Ele conta sua experiência como participante e
conspirador. Assinala que o primeiro civil no Estado da Paraíba que entrou em
contato com os elementos fora do Estado da Paraíba, para começar a Revolução de
1930, foi meu tio José d’Avila Lins, que recebeu os irmãos Lima Cavalcanti no
belvedere de Trincheiras. Este encontro
se deu no dia no dia 3 de março de 1930, quando se deu o primeiro contato civil
dos conspiradores de Pernambuco. E quem os recebeu, não de forma oficial, mas
até meio escondido, foi meu tio José d’Avila Lins, que era o prefeito da
capital, e não podia se expor, recebendo-os oficialmente. No dia 6 de março houve o primeiro
encontro entre os civis da terra e os elementos militares, em Tambaú, na casa
de Juracy Magalhães, onde se encontravam presentes os três tenentes Juracy,
Jurandir Mamede e Agildo Barata, e estavam também Anthenor Navarro, meu tio
José, José Américo e mais um ou dois dos conspiradores civis. Foi o primeiro
dia da reunião entre civis e militares para a Revolução de 30. A partir daí as reuniões se davam
em Tambaú e, para não despertar suspeita, iam no carro do prefeito, que morava
em Tambaú. Este é um depoimento de Anthenor Navarro. Humberto Mello, em resposta a Joacil Pereira: Como falei, Álvaro Machado veio
para cá como delegado de Floriano Peixoto e montou muito bem sua máquina; com
muita competência, passou 20 anos mandando, e saiu somente quando morreu. Há a
informação de que Walfredo Leal seria parente dele, mas isso não está bem
confirmado; se for, vamos ter a família que deu maior número de governantes à
Paraíba. Porque nós tivemos os dois irmãos Machado – Álvaro e João, Walfredo
Leal, José Américo, sobrinho de Walfredo, Gratuliano Brito, também sobrinho de
Walfredo, e Ivan Bichara, casado com uma sobrinha de Walfredo. Seis governantes,
portanto. Saindo a oligarquia Machado, entra
a oligarquia Pessoa. O domínio de Epitácio era tão grande que havia até um
ditado: Na Paraíba quem não é Pessoa é coisa. Houve, é claro, oposições. Coelho
Lisboa combateu essa oligarquia, embora Coelho Lisboa só tenha começado a
combater a oligarquia de Álvaro Machado depois que se certificou que ele,
Coelho Lisboa, não seria candidato a governador. Coelho Lisboa, em 1908, queria
ser o governador, mas terminou sendo João Machado. E ele levou para o túmulo essa
grande mágoa de não sair governador da Paraíba. Luiz Hugo, intervindo: Coelho Lisboa pleiteou ser
candidato anteriormente, antes de Venâncio Neiva, mas foi barrado pelo
prestígio dos irmãos militares. Humberto Melo, retomando a palavra: Certa vez perguntei a alguns
auxiliares próximos de João Pessoa, gente que tinha convivido com ele,
perguntei a José Américo, a Osias Gomes, a Adhemar Vidal sobre leituras,
livros, etc., idéias, que João Pessoa refletia; ninguém me soube dizer nada.
Mas encontramos no arquivo sobre João Pessoa, que existe aqui no Instituto
Histórico, muitos recortes de jornais que mostram as idéias que o
influenciaram, coisas que ele reproduziu na sua administração. Acho que João
Pessoa sentia que aquele esquema não dava mais para continuar. Daí começa a
haver hostilidade àquele sistema coronelista. O coronel mandava e representava
porque não havia a figura do chefe político; era uma figura oficial,
equivalente hoje ao presidente do Diretório de partido. O jornal publicava:
Fulano de tal, chefe político. Esse chefe político era quem nomeava, influía na
nomeação do juiz, nomeava o promotor, o coletor, o delegado, geralmente
influenciava a designação do padre, o professor, todo o funcionalismo. João
Pessoa começou a desmantelar esse domínio, substituindo promotores, elementos
do fisco. Em termos de promotor posso lembrar o seguinte: a família Dantas
tinha uma propriedade, um latifúndio no município de Mamanguape e havia uma
briga entre os Lundgren como também havia umas reclamações dos índios da Bahia
da Traição contra os Dantas, reclamações que tinham sido enviadas a João
Suassuna e que tinham sido engavetadas. Então João Pessoa tira o promotor de
Mamanguape e João Dantas escreve uma carta a familiares elogiando muito João
Pessoa porque tinha tirado o promotor, porque tinha botado um elemento que não
era vinculado ao poderio dos Lundgren. E quando foi desengavetada a reclamação
dos índios João Dantas não gostou. Diz Adhemar Vidal que a partir daí que
surgiu o ressentimento. Joacil Pereira, em aparte: Houve um processo contra Manoel
Dantas Correia de Góes, conhecido na intimidade por Zola, processo por crime de
homicídio que ele tinha praticado em legítima defesa. João da Matta Correia
Lima, que era amigo íntimo e colega de João Dantas, foi constituído advogado.
Ao invés de levá-lo ao Júri e absolver ou conseguir antes a impronúncia, ele
anulou, por um hábeas corpus perante o Tribunal – naquele tempo se chamava
Tribunal de Apelação – esse processo. Essa foi a causa principal do primeiro
estremecimento. Depois que João da Matta já tinha morrido, num acidente de
automóvel, foi quando houve aquelas medidas de João Pessoa contra a família.
Inclusive já tinha havido também a invasão da república de João Dantas; então
restauraram o processo. O processo tinha sido anulado, podia ser restaurado.
Foi restaurado para condenar, teleguiadamente, Manoel Dantas Correia de Góes. E
ele teve de fugir, só voltando para aqui no governo de Flávio Ribeiro. Humberto Mello, retomando a palavra: Ele voltou no governo de José
Américo e conseguiu, através de Hermano Almeida, ser nomeado para o
Departamento de Estradas de Rodagem. É uma história mal contada. Ele me disse
que era engenheiro, mas que na fuga dele tinha perdido o diploma. Seria fácil
ir à Faculdade e conseguir uma segunda via ou uma declaração. Ele disse que não
foi possível. A história é meio complicada. Mas ele não conseguiu ser nomeado
como engenheiro, e ficou como auxiliar. A invasão da residência-escritório
de João Dantas foi no dia 20 de julho de 30 e Manoel Dantas tinha saído da
Paraíba em 1929. Ele me disse que tinha ido embora – e disse a João Dantas –
que não tinha temperamento para ficar. Isso consta de um depoimento no Núcleo
Documental de Informação Histórico Regional – NDIHR, da Universidade Federal da
Paraíba. No meu entender, o que agravou
mais o rompimento foi o seguinte: o presidente da Junta Eleitoral, que seria o
juiz federal Gouveia da Nóbrega, se licenciou e os suplentes também, que eram
despreparados e João Dantas deu uma assessoria jurídica e a Junta preparou toda
aquela “degola”. Joacil Pereira, solicitando aparte: Quem fez todo o processo foi
Eugênio Carneiro Monteiro. Eu ouvi várias vezes ele contar isso no Clube Cabo
Branco. Carneiro Monteiro estava no Rio Grande do Sul e foi chamado para
assumir a presidência da Junta. Humberto Mello, voltando: Também ouvi essa versão, de sorte
que ele até ganhou o apelido de Eugênio Monturo. Quanto à manutenção de Carlos
Pessoa na chapa, foi, de fato, uma situação inexplicável. José Américo tenta
uma explicação. Diz que João já se achava rompido com um ramo da família, que
era os Pessoas de Queiroz, e não queria um rompimento com outro ramo que era o
de Antônio Pessoa. Dizem inclusive que José Pereira sugeriu, para homenagear a
terra natal de João Pessoa, o nome de Assis Chateaubriand no lugar de Carlos
Pessoa na chapa. Finalmente, o problema do cangaço
é um problema meio complicado. Que José Pereira era inimigo de Lampião, não há
dúvida. Que ele sempre tenha sido inimigo é algo um tanto questionável. Há um
autor norte-americano que escreveu um livro sobre o cangaço, especificamente
sobre Lampião, e afirma que José
Pereira e Lampião eram amigos e depois se tornaram inimigos. Não diz porque,
pois havia várias versões sobre a origem da inimizade. O fato é que José Pereira tinha um
comando muito grande, e como Inês Caminha falou aqui num debate anterior, o
Estado era privatizado. A gestão de Suassuna, no período de 1924-28 coincidiu
em que foi o maior predomínio de todos os coronéis em todo o Nordeste. Havia uma situação interessante.
Havia o que chamavam a terceirização do fisco. Pegava-se os impostos estaduais
do município x e se fazia um leilão daquele imposto. Chegava alguém,
arrematava aqueles impostos (isso era das Ordenações do Reino, disse um participante).
Havia gente que pagava as folhas do Estado. Quer dizer, o Estado era
privatizado. Era uma terceirização das funções estaduais. Joacil Pereira, explicando: Mas isso era permitido por lei
federal e vem desde as Ordenações. Humberto Mello, continuando: Não havia uma permissão expressa e como se sabe, em
Direito o que não é proibido, é permitido. A fala do Presidente: Chegamos ao final deste debate,
com uma vasta riqueza de novidades sobre o tema. Esta foi a forma que o nosso
Instituto encontrou para renovar a preocupação pelos nossos desafios
históricos. Cada vez mais estamos trazendo para um público novo a posição do
Instituto. O Instituto Histórico se reflete pelo conhecimento e pela
qualificação dos seus associados, os quais constantemente estão trazendo para
vocês novos caminhos. A contribuição do expositor
Humberto Mello, do debatedor Dorgival Terceiro Neto, dos participantes Joacil
de Britto Pereira e Guilherme d’Avila Lins encheu o debate de informes pouco
conhecidos. Foram depoimentos pessoais, interpretações acertadas,
pronunciamentos esclarecedores. O que se podia falar sobre a
Revolução de 30 e seu derredor foi feito, quase esgotando o manancial de
episódios oficiais e de bastidores daquela fase que projetou, sem dúvida, a
Paraíba na história nacional. Renovo meus agradecimentos aos
presentes, que não se afastaram da sessão, apesar do adiantado da hora, numa
demonstração de interesse pela história paraibana. Obrigado.
Álvaro Pereira de Carvalho, que não participava em nada no movimento
revolucionário. Ele nem sabia do movimento, mas os seus secretários conspiravam
ocultamente. Aí, com a saída de Álvaro Pereira, quem assume o Governo é José
Américo de Almeida, não apenas o Governo do Estado, mas o Governo do Norte. Os
senhores, se desejarem pesquisar, nos exemplares de A UNIÃO da nossa
Biblioteca, vão encontrar inúmeros atos de José Américo nomeando gente para
cargos federais. Aqui na Paraíba e no Rio Grande do Norte. Assim, a Paraíba
governou o Norte, tendo uma projeção grande, indo José Américo para o
Ministério.