INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PARAIBANO/IHGP
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A fala do presidente dos trabalhos:

      Iniciamos com chave de ouro nosso Ciclo de Debates sobre a participação da Paraíba no 500 anos da descoberta do Brasil. A professora Regina Célia Gonçalves colocou de forma nova, de forma diferente, um esquema para tratarmos das comemorações dos 500 anos do Brasil.

      Seu registro sobre fases do nosso período colonial incentiva-nos a ocupar os vazios que estão por preencher no estudo e na análise de importantes ocorrências na Paraíba dos primeiros tempos. E ela destaca, com bastante ênfase, a necessidade de analisar em maior profundidade a história comercial da Província, diante das numerosas fontes ainda pouco exploradas.

      Seu trabalho é um desafio aos historiadores paraibanos.

      O Instituto Histórico se congratula com a participação da professora Regina Célia neste Ciclo de Debates que se inicia.

      Dando seqüência aos nossos trabalhos, convoco o confrade Wellington Aguiar para iniciar os debates sobre este tema.

      O professor Wellington Aguiar, além de sócio deste Instituto, do qual já foi vice-presidente, é membro da Academia Paraibana de Letras, onde exerceu a Presidência recentemente. Ex-professor da Universidade Federal da Paraíba, atualmente exerce o cargo de Diretor do Arquivo Público do Estado e é membro do Conselho Estadual de Cultura.

      Como historiador tem várias obras publicadas, dentre elas UM RADICAL REPUBLICANO CONTRA AS OLIGARQUIAS; CIDADE DE JOÃO PESSOA - A MEMÓRIA DO TEMPO; UMA CIDADE DE QUATRO SÉCULOS e CAPÍTULOS DE HISTÓRIA DA PARAÍBA, estes dois últimos em parceria com o professor José Octávio de Arruda Mello. Brevemente lançará A PARAÍBA NOS RECORTES DE JORNAIS.

      Com a palavra o historiador Wellington Aguiar.

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Debatedor: Wellington Aguiar (Historiador, sócio do IHGP, ex-presidente da Academia Paraibana de Letras, membro do Conselho Estadual de Cultura)

      Eu acho que se pode celebrar ou mesmo comemorar os 500 anos do Brasil, ou qualquer outro evento, de modo crítico, sem louvaminhas, sem confetes, sem elogios.

      Nosso Instituto está celebrando os 500 anos de modo crítico, pois nesse debate todo mundo vai poder falar e expor as suas idéias, a começar por este debatedor.

      Farei um retrospecto da Paraíba Colonial, uma visão apenas dentro do tema que foi proposto.

      A fundação da Paraíba começou em 1574, quando o rei D. Sebastião naturalmente antes de sua derrota e de sua volta de Alcácer Quibir. Ele desmembrou a Capitania da Paraíba, tirando-a de Itamaracá. Por que isso? Porque tinha havido o massacre de Tracunhaém, aqui perto de Goiana, um episódio meio lendário, um episódio que os cronistas antigos falaram. Mas, não há prova nenhuma que tenha ocorrido como assim se conta. Havia o engenho de Diogo Dias, na rabeira do rio Tracunhaém, onde hoje está a cidade de Goiana, que não existia na época. Diogo Dias escondeu uma cunhã, uma formosa cunhã dos seus 15 ou 16 anos, que fora casada com um mameluco; o seu pai, Inhinguaçu, chefe potiguara da Baía da Traição, mandou-a buscá-la em Olinda, para onde o mameluco tinha fugido com ela. O governador do Brasil naquela época, Antônio Salema, estava de passagem por Olinda e deu uma provisão a esses índios para que eles não fossem obstaculados no seu caminho de retorno à taba. Chegou no engenho de Diogo Dias, eles ficaram por lá, mas Diogo escondeu a cunhã. Ficou tergiversando com palavras vãs, enganando os irmãos da moça. Eles foram embora e comunicaram a Inhinguaçu. Diz Horácio de Almeida, o paraibano que escreveu, ao lado de José Octávio, as duas melhores histórias da Paraíba, a meu ver, sem citar Irineu Pinto, porque Irineu Pinto é o bebedouro da nossa História. Diz Horácio de Almeida, em sua HISTORIA DA PARAÍBA, que esse acontecimento teria passado despercebido se não estivessem os franceses com Inhinguaçu. Os franceses negociavam com os índios e insuflaram os índios contra o engenho de Diogo Dias. E os índios planejaram um ataque com a orientação dos franceses e, para encurtar a história, arrasaram e mataram o que puderam. Era um engenho fortificado. Os índios atraíram o pessoal do engenho pra o campo raso, para o campo aberto, porque eles não tinham condições de tomar o engenho por que lá tinha paliçada, tinha um fortim, era todo bem defendido. Mas eles deram a entender que havia poucos índios, saindo os defensores do engenho para o campo aberto. Quando o pessoal do engenho avançou surgiram os índios e dizimaram todos. Diante disso, como diz Horácio de Almeida, os índios ficaram soberbos e ameaçavam invadir até Igaraçu, cujo povo ficou com medo, assim como o povo de Olinda. Então o rei D. Sebastião mandou estender a conquista para o Norte, iniciando com o desmembramento da Capitania. Houve cinco tentativas de conquista da Paraíba, a partir desse ano. A quinta, que foi a menor, com apenas 20 homens, num caravelão, foi a que terminou dando certo. Os índios foram conversar com Martim Leitão para fazer as pazes, Piragibe à frente, prevalecendo a proposta já anteriormente feita durante as lutas entre tabajaras e potiguaras.

      E eu aproveito para dizer que essa história de terra dos tabajaras, não é verdadeira. A Paraíba não é a terra dos tabajaras. Já vi em vários livros, inclusive de professores da Universidade, um até amigo meu. Dra. Eudésia Vieira publicou um livro, TERRA DOS TABAJARAS. Não tem nada de tabajaras. Os tabajaras moravam entre a Bahia e Pernambuco, nos limites do São Francisco, e vieram para cá. Saíram de lá porque fizeram um massacre nos portugueses. Piragibe sempre colaborou com os portugueses, mas os portugueses quiseram atraiçoá-lo e eles vieram para cá, entrando pelo rio Paraíba, em Monteiro. Muita gente boa chama terra dos tabajaras. Como muita gente diz que Cajazeiras ensinou a Paraíba a ler. Não é possível. Cajazeiras começou em 1800. Os jesuítas davam aula aqui, em Latim, nos finais do século XVII e século XVIII, como é que Cajazeiras ensinou a Paraíba a ler? Um dia desses uma pessoa respeitável intelectualmente escreveu isso numa revista de Cajazeiras: "Cajazeiras ensinou a Paraíba a ler." Tudo por conta da comemoração do Padre Rolim. Não é possível. Uma terra que nasceu em 1800, que antes disso só tinha cobra, índio e carrascais. Quem ensinou a Paraíba a ler foi a capital. Não é porque é melhor do que ninguém, é porque foi fundada primeiro.

      Outra coisa que se diz é sobre Caramuru. Homem do fogo, filho do trovão. Mentira, mentira histórica. A História está cheia de mentiras. Vi no Museu Nacional, há dois anos. Caramuru no Museu Nacional, um belo museu, lá no Rio de Janeiro: homem do fogo, filho do trovão. Como a gente aprendeu. Mas, não é. Havia lido Câmara Cascudo, o sábio do Rio Grande do Norte, ensinar: moréia, moréia, aquela cobra escura. Passamos um fax para o Ministro da Cultura e o Ministro encaminhou o fax para a diretora do Museu, que informou que havia designado 10 PHD para estudarem o assunto. Se fosse um museu daqui estava a maior gozação. Finalmente a comissão de PHD concluiu que era uma moréia. Quando voltei lá, vi que o nome moréia estava lá. Mudaram o cartão. Outra coisa foi a data da morte de Epitácio Pessoa, que fundou o Museu. A data que tinha era de 1947, debaixo do busto de Epitácio, que tem lá no pátio do Museu. Foi em 42, não é? E eu botei isso num fax. O de Epitácio apagaram, mas não botaram o ano. Depois vi dois outros erros. Está lá no frontispício do Forte de Cabedelo, que diz assim: construído em 1580; antes, portanto da fundação da Paraíba, quando se sabe que este forte foi construído depois, em 1585. E outro: Aurélio de Figueiredo, tem um quadro dele no Museu, e tem lá: nascido em Areias. A nossa Areia daqui ninguém sabe o nome.

      Outro erro é quanto à data da fundação da cidade, que se considera 5 de agosto. Esta data é o dia das pazes celebradas com os tabajaras, na pessoa de Piragibe e o escrivão da Câmara de Olinda, João Tavares, mandado pelo Ouvidor Geral do Brasil, Martim Leitão, que foi o verdadeiro patrono da conquista. Essas pazes dividiram os índios, ficando os tabajaras com os portugueses, e os potiguaras contra. A paz com os potiguaras somente foi feita 14 anos depois. Não sou mudancista, mas sem essa paz com os tabajaras não teria sido possível Martin Leitão vir com seus pedreiros e em 4 de novembro iniciar a construção da cidade.

      A noite colonial foi longa, triste, horrorosa. Portugal não permitiu aqui o funcionamento de indústrias, isto no Brasil de modo geral; não permitiu nada. Houve a guerra holandesa. A guerra holandesa é o capítulo mais importante da História colonial do Brasil; não é do Nordeste e da Paraíba, é do Brasil; Não tem a fama toda porque é do Nordeste. Se isso tivesse ocorrido em Minas Gerais, São Paulo, ou Rio de Janeiro ou Rio Grande do Sul, era o capítulo mais importante da História colonial do país. Nessa luta o nosso povo foi de uma bravura impressionante. A Paraíba deu um dos comandantes da guerra contra os holandeses, que foi André Vidal de Negreiros. Esse homem era tão importante que o padre Vieira, numa carta ao rei de Portugal, disse que André Vidal era um homem de tanto valor que só tinha um defeito, não sabia fazer versos, como disse um tempo desse um ministro de Vossa Majestade. Está no livro DATAS E NOTAS DA PARAÍBA.

      A Paraíba terminou anexada a Pernambuco na segunda metade do século XVIII. Como a professora conferencista falou, há um livro da professora Elza Régis, que levou dez anos para fazer, com pesquisas.

      Muito se conhece do que ocorria no Brasil Colônia nos livros dos visitantes estrangeiros que estiveram por aqui. Henry Koster era um viajante, nascido em Portugal, na verdade filho de inglês (o pai dele estava em Portugal nesse tempo), andou visitando a Paraíba em 1810. Está no livro VIAGENS AO NORDESTE DO BRASIL, traduzido pelo sábio Câmara Cascudo. E o que disse Koster sobre a nossa cidade? Disse o seguinte: que a pobreza da Paraíba era grande.

      Nós temos no Arquivo Histórico um documento de José Bonifácio, ele assinando Jozê, com z e circunflexo no e, dizendo que representou a Paraíba, antes da Independência. A Paraíba não tinha dinheiro para mandar nenhum representante e pediu a José Bonifácio para representar a Paraíba.

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